♡ Fanfic Barbie: Queen of Flowers ♡

      Olá amores! A fanfic  Queen of Flowers ♡ foi exclusivamente criada por mim, com base na personagem da Barbie, seu namorado Ken, suas amigas Tereza, Summer, Nikki, Raquelle, Midge e as suas irmãs Skipper, Stacie e Chelsea.
       A história tem a temática voltada para aventura, mas mistura romance, suspense e ação. Conheça os personagens:
       
 

Ashley Benson como Barbie Liana Roberts



 Brant Daugherty como Ken Sean Carson


Barbara Palvin como Tereza Alexa Rivera


Rihanna como Nikki Suzanne O' Neill


Holland Roden como Summer Sophie Gordon


Ashley Tisdale como Lauren, Dave Franco como Ryan, Sam Claflin como Will e Zac Efron como Eric


Cara Delevigne como Midge, Alexandra Daddario como Raquelle, Victoria Justice como Lucy e Janel Parrish como Evelyn


Emilia Clarke como Alexandra Privet, Lily James como Celeste e participação de Lana Del Rey


 

1. { Capítulo Um }
      Olho para o horizonte. As nuvens estão coloridas, o belo contraste prova que o sol já está se pondo. Eu e as meninas estamos sentadas nas cadeiras atrás da minha casa. Um lugar realmente adorável, com piscina, mesas de praia e a vista para o oceano. Caminho em direção à mesa e sento junto da Tereza. A franja do seu cabelo castanho é empurrada frequentemente para trás da orelha, enquanto ela tenta se concentrar no desenho.
- Hum... novo modelo? - pergunto olhando atentamente para a folha.
- Aham - ela responde sem desviar os olhos do papel.
       Nikki caminha até a mesa trazendo dois copos de sorvete Starbucks e pergunta:
- Alguém quer?
       Olho para os dois copos. Ken sempre traz para casa uma porção de sorvetes. Sempre pega seu sabor preferido, baunilha, e alguns de morango para mim. Sorrio ao lembrar dele enquanto desliso o copo na mesa.
- Obrigada - digo à Nikki.
       Tereza aperta os lábios. Bruscamente ela vira a folha para nós dizendo:
- Isso não está bom!
       Analiso o desenho. Um modelo de vestido preto, semelhante a um maiô na parte de cima, com decote até a cintura. A saia longa cobria apenas a parte de trás. Fico abismada diante do comentário que Tereza dera ao próprio desenho e respondo:
- Você ta brincando?
- Que lindo! - Nikki exclama.
- Sexy demais? -Tereza pergunta novamente.
- Não, não, está ótimo! - responde Nikki - Mas precisa de algo na cabeça.
       Penso num detalhe que deixaria o look perfeito. Já estava sexy, precisava de algo vintage... fofo?
- Uma coroa de flores - sugiro.
       As duas me olharam fixamente, e Tereza olhou para a folha antes de responder:
- Perfeito! Equilibrou o look.
       Ela imediatamente colocou a folha de volta na mesa e delicadamente começou a desenhar pequenas curvas acima da cabeça da garota no desenho.
- Rosas? - pergunta ela.
- Sim - respondo - Uma coroa de flores fica ótima com qualquer tipo de flor, mas mais especificamente com rosas.
       Pouco a pouco, dentre os pequenos rabiscos, a imagem de uma coroa ia se formando. O desenho estava pronto.
- Estou impressionada! Você realmente tem talento para isso - digo à Tereza.
       Meus pensamentos são interrompidos quando Summer aparece correndo e pula na piscina. Nikki se aproxima e pula também. Seguimos o ritmo.

 

      À noite, estávamos na sala da minha casa arrumando os colchões no chão para dormirmos. Eles ficavam entre os dois sofás e a estante. Ao lado, uma longa parede de vidro e a calçada com a piscina, podíamos ver o oceano dali mesmo. Tereza e Nikki arrastavam o último colchão, enquanto Summer remexia as cobertas e travesseiros.
- Agrr, como é pesado! - reclama Tereza.
      Ambas respiraram aliviadas quando finalmente terminaram de puxar o pesado colchão e se jogaram em cima dele. Me dirigi até lá, sentei no sofá e perguntei:
- Estão ansiosas para amanhã?
- Com certeza! - responde Summer - Vamos realizar nossos sonhos juntas.
      Ela sorriu intensamente e balançou a cabeça, deixando o cabelo ruivo ondulado deslizar sobre seus ombros. Ela, como sempre doce e animada.
- É a melhor coisa que podíamos fazer, escolher uma boa profissão artística juntas - diz Nikki.
       Sorri e disse com confiança:
- Vamos nos sair bem!

 

       O ruído do despertador me faz abrir os olhos. Levanto o braço calmamente e começo a procurá-lo. Tudo o que senti foi a madeira fria da pequena mesa e o som estridente continuava. Então empurrei a mesa com força e o despertador caiu no chão, parando de tocar. Tirei o travesseiro de cima da minha cabeça e levantei sonolenta. 
- Acho que você o quebrou - diz Summer.
      Olhei para o chão. Lá estava o maldito, com uma peça solta.
- ( risos ), É - digo
- Vamos levantar logo, eu faço o café - disse Tereza levantando.
- Estou sem vontade de sair daqui - diz Summer.
- É, bem vinda à realidade - diz Nikki.
      Todas fomos até a cozinha. Tereza foi até a geladeira pegar a Nutella, o leite... Que logo já estava aquecido. Então tomamos o café da manhã.

      Precisávamos estar na Academia Californiana por volta das dez horas, e ficaríamos até as seis, mas isso é só no primeiro dia, por causa do discurso que a diretora daria, e é claro que depois teríamos que conhecer a escola toda. Os outros dias teriam aula da uma hora até as seis.
      Esta academia era uma grande escola que oferecia cursos artísticos variados para garotas. Toda menina que quisesse estudar lá teria de ter o ensino médio completo. Sendo assim, depois de matriculada, ela teria de escolher três atividades artísticas de seu interesse para conseguir uma graduação. Eu e as garotas escolhemos praticamente as mesmas matérias para que ficássemos juntas. Eu havia escolhido balé, música e artes. Todas as meninas também escolheram balé e música, mas Summer incluiu culinária e Nikki incluiu esportes.
      Fomos caminhando até a academia. Não é muito longe, mas dá uns vinte minutos.

      Quando chegamos, nos deparamos com um portão dourado, acompanhado de enormes grades que deviam cercar todo o território da escola. Na frente deles, haviam pés de rosas acompanhadas de arbustos delicadamente podados. Ficamos paradas ali por alguns instantes, apreciando o lugar.
- Meu Deus! Isso é muito legal! - exclama Summer.
- Sem dúvida, é muito bonito - diz Nikki.
      Pátio adentro, caminhávamos sobre uma calçada feita de lajotas prateadas, elas faziam uma curva ao redor de um chafariz. Nos dois lados, havia grama e algumas árvores cerejeiras. Tereza se mostrou surpresa e disse:
- Oh, vejam lá em cima!
      Segui os olhos na direção que ela apontava. Sobre a imensa colina, estava um castelo, ficava um pouco acima da escola. Pensei que talvez ele fosse usado em comemorações especiais como os bailes de fim de ano, ou jantares especiais. Por dentro, a escola tinha o mesmo charme do lado de fora. Poltronas rosa pastel em estilo vintage acompanhadas de mesas se encontravam na sala de entrada. Logo a frente, uma mulher simpática estava recebendo as alunas, seu cabelo castanho estava preso em coque. 
- Aquela deve ser a diretora, não é? - pergunto às garotas.
      Tereza deu de ombros. Assim que ela nos viu, se dirigiu até nós e se apresentou:
- Olá meninas, sejam bem vindas à Academia Californiana. Meu nome é Alexandra Privet, diretora da academia. Por favor sigam esse corredor e deixem as seus pertences no quarto número nove - disse enquanto nos entregava a chave - Depois venham até o salão principal, onde darei a palestra para iniciar o ano.
- Obrigada - agradeceu Tereza.
     À direita da recepção, havia um longo corredor. De um lado havia os quartos, do outro uma parede de vidro que pegava praticamente todo o corredor, com a vista para o jardim. Assim que avistamos o nosso quarto, Tereza colocou a chave na fechadura e abriu a porta.
- Oh, que lindo! - diz Summer.
      Haviam exatamente quatro camas, acompanhadas de mesinhas. No fundo, um armário e um banheiro. A parede que dava de frente para as camas também era feita de vidro que dava acesso a uma sacada. Percebi que a escola era um ambiente agradável no instante em que cheguei, agora não restava dúvidas! Os móveis tinham cores perfeitamente combinadas, eram cinza clarinho e os lençóis eram rosa pastel.
- Isso é muito luxo! - elogiou Nikki.
      Era muito bom pensar que ficaríamos no mesmo quarto. Pois sempre precisamos umas das outras, não importa qual seja o problema, eu sempre posso contar com elas.
- É lindo mesmo! - disse Tereza - Mas agora vamos até a palestra.

 

      O único jeito de saber onde ficava o salão principal era seguir as outras alunas, pois sem dúvida, a escola era enorme, pelo menos um terço servia somente para os quartos das alunas. O corredor estava cheio, todas seguindo a mesmo direção. Quando entramos no salão, encontramos uma fileira de cadeiras para nós quatro, então nos sentamos e tivemos de esperar até que todas as alunas se sentassem. Em seguida, a diretora apareceu recebida por aplausos e começou o discurso.
- Bom dia. Sejam todas bem vindas à Academia Californiana. Aqui temos o intuito de formá-las profissionalmente em várias atividades artísticas. Temos o grupo da música, em que terão aula de canto e instrumentos musicais. No grupo da dança temos balé e animação de torcida. No grupo dos esportes temos andebol e basquete. Também há atividades de teatro, desenho e culinária. Vocês ficarão divididas em equipes de quatro integrantes que dividirão o mesmo quarto. As aulas começam à uma hora da tarde e vão até as seis, isso conta a parada para a refeição, às três horas. Depois da aula, é livre para vocês decidir se querem passar a noite na escola, ou podem ir para casa. Em alguns fins de semanas teremos passeios e viagens. Pois bem, eu desejo um ótimo ano letivo à todas. Que o tempo que vocês passem aqui seja o melhor de suas vidas.
      O discurso terminou com aplausos, tanto por parte das alunas e também dos professores, que estavam ao lado da Privet no palco. Depois de uma pausa para o barulho cessar, a diretora continuou a falar.
- Como hoje é o primeiro dia, vocês poderão almoçar na escola.

      Ela nos acompanhou até o restaurante. Havia muitas opções, entre eles pizza, lasanha, panquecas, sanduíches, sucos... De sobremesa havia chocolate, sorvetes e muitas porções de frutas. Havia todo tipo de cobertura ou calda para se comer com elas.
- Comida! - disse Summer sorrindo.
- Nossa, vejam quanta coisa! - falei surpresa.
      É impossível escolher um prato só, são tantas variedades! Tendo em vista o ano inteiro para experimentar, peguei um pedaço de lasanha e preenchi o fundo do prato com um pouco de molho de carne. De sobremesa, um pedaço de mousse de maracujá.
- Barbie, vamos lá fora - avisou-me Tereza.
- Tudo bem - respondo sem tirar os olhos da comida.
       Quando estou me dirigindo para lá, Summer aparece ao meu lado com os pratos repletos de comida de todo tipo, apressada para sentar e comer. Não pude evitar a risada.
       Fora do restaurante, há tem uma grande escada que leva até uma calçada perto do jardim. As mesas assemelham-se com as de praia, com um guarda-sol. Após sentarmos, Tereza comentou:
- Bom, o que acharam?
- Incrível - disse enquanto devorava a lasanha - E isso que as aulas nem começaram!
- Mas as aulas vão ser o maior desafio! - falou Summer - Aprender todas as atividades artísticas, música, dança...
       Nikki riu e acrescentou:
- Vai ser um desafio você comer tudo isso!
       Começo a rir. Summer responde:
- Ah, não vai ser. Acredite.

 

2. { Capítulo Dois }
      A nossa primeira aula era de balé, fomos até uma sala agradável, bem iluminada, chão com piso laminado e espelhos fixos nas paredes com barras de apoio. Do outro lado, havia uma pequena sala cercada de poltronas com mesas e vestiários. Cada grupo teria uma mesa específica para deixar os pertences. Deslizei a mochila do ombro para a poltrona e remexi até encontrar a malha, meia-calça e as sapatilhas, que apesar de todas as alunas já terem providenciado a de ponta, era necessário calçar as de meia-ponta, isso até que todas estejam bem preparadas.
       A professora de balé se chamava Marie. Depois de uma breve apresentação ela começou a explicar como seriam as aulas.
- Bem vindas à sua primeira aula de balé. Pretendo começar com os alongamentos básicos e plié com a sapatilha de meia-ponta.
      Ela tinha um sotaque francês, o que já era previsto por mim. Desde os pequenos passos do adágio, até as maravilhosas coreografias, são usadas palavras em francês. Então é tudo o que ouviríamos daqui algumas semanas.
      Começamos com o alongamento na barra. Acompanhávamos uma música tocada em piano com o plié, uma sequencia de movimentos com os braços, pernas e tornozelo. Com o tempo que fiquei sem ir à uma academia de dança devo ter perdido o equilíbrio, já que sentia a minha mão bem firme da barra, o que antes não era necessário. O balé sempre fora minha paixão, eu fazia aulas enquanto estava no ensino médio da antiga escola.
      A professora observava aluna por aluna, corrigindo, mostrando a que medida as mãos deveriam ficar, a coluna ereta e os pés bem separados... Quando se aproximou de mim observou atentamente a curvatura do meu tornozelo e exclamou:
- Hum, parece que alguém já treinava antes daqui.
      Olhei para ela e sorri.
- Continue, está indo muito bem - disse ela.
- Obrigada.
       Ela continuou andando, e quando estava no fim da fila, elogiou pelo menos mais duas garotas.

       Com todas as atividades disponíveis na Academia Californiana, admito que fica um pouco difícil escolher uma profissão, mas acho que eu seria bailarina. Talvez eu consiga interpretar a rainha dos cisnes, Odette ou a princesa caramelo, Clara, aqui mesmo na academia. Eles sempre fazem grandes espetáculos de outono. Gosto muito de música, talvez pudesse ser cantora, mas acho que o lado da dança é melhor para mim. Sei que a Tereza pretende ser estilista, a Summer e a Nikki são apaixonadas por instrumentos musicais, portanto, a Summer tocará em grandes orquestras com violoncelo. A Nikki quer tocar violino, mas provavelmente vai seguir uma carreira de esportes.

 

      Na aula de música, conhecemos a professora Anne, que começou dizendo que deveríamos escolher um instrumento musical, este permaneceria até o final do ano. Dentre todos, havia violão, piano/teclado, violino e violoncelo.
      Gosto muito de piano, tenho um na minha casa, e sei tocar algumas músicas graças ao Ken, já que ele possui um curso completo de aulas de piano. Acabei escolhendo o violão, já que é algo mais leve e prático. A Tereza ficou com o piano, a Nikki violino e a Summer violoncelo.
      Começamos apenas aprendendo os símbolos ( letras ) das notas com os seus devidos significados. Além disso, preenchemos as fichas do instrumento escolhido para avaliação. As alunas que ainda não tinham certeza, teriam uma semana para confirmar, talvez porque tudo ainda esteja em andamento na escola. Não era o nosso caso.

      Entrando no quarto, verifiquei se havia guardado todo o meu material, precisei ligar a luz. Apesar de estar no fim da tarde, já estava muito escuro. Tanto o material da aula de balé quanto as anotações feitas durante a aula de música estavam lá, então puxei o reco da bolsa.
      Summer caminhou até a vidraça e suas mãos tocaram a testa enquanto ela falava:
- Caramba! Parece que vai chover muito hoje a noite.
      Olhando para o céu, dava pra concluir que iria chover, e logo! As nuvens estavam cinza escuro, já relampejando.
- Dá tempo de ir para casa? - pergunta Tereza.
- É melhor irmos agora - responde Nikki - Não adianta sair depois que a chuva começar.
      Ela tem razão. Eu estava pensado na possibilidade de ficarmos na escola, mas ninguém havia levado roupas e objetos pessoais. Apressadas, caminhávamos rumo a porta de saída.
      Lá fora a luz natural diminuía aos poucos. Mas a estrada era ótima, há uma calçada com muitas árvores ao lado. No verão, teríamos sorte de caminhar na sombra.

      Algo pequeno e frio toca a minha pele, ergo o braço para ver a gota deslizando para o chão. Sinto outra vez, e a sensação não para, está chovendo.
- Ah, rápido, pra debaixo daquela árvore! - gritou Summer.
      A chuva aumenta cada vez mais, e as pequenas folhas dos galhos não sustentam toda a água. Ela escorre e pinga. Parece não adiantar nada.
- Droga, o que vamos fazer agora? Já estou com frio! - reclama Tereza.
-Teríamos mais uma quadra para correr até a casa da Barbie. Não dá - diz Summer.
     À pelo menos um metro de distancia da copa da árvore, se encontrava uma van. Nikki pareceu curiosa ao olhar para dentro de uma das janelas. Seu cabelo já molhado, estava por baixo de seus braços cruzados.
- Pessoal - ela balança a cabeça de um lado para o outro observando a van - Acho que vamos ter de entrar aí dentro. A porta está aberta.
- Como você sabe? - pergunta Tereza.
- Dã - Nikki apenas puxou a porta, se abriu imediatamente.
- Podemos fazer isso? - pergunto.
       Tereza pareceu não se importar:
- Ah, o dono não deve estar por perto. Vamos, vamos! - disse enquanto nos empurrava para dentro.
     Deixamos um rastro de sujeira no degrau. O barro logo se espalhou no chão perto dos bancos da frente. Nos acomodamos ali.
- Muito bem - Nikki começou a falar - Se vier alguém, podemos ficar entre os bancos, e se trancarem a porta, poderemos mais tarde pular uma das janelas, não é?
- Não vai ser tão simples - digo - Acho que devíamos sair logo.
- Ah, relaxe! - disse Tereza.


 

      Ficamos lá por mais uns dez minutos e a chuva aos poucos foi diminuindo, mas as trovoadas e o céu cinzento assim continuavam.
- Podemos ir? - pergunta Summer.
- Sim - concluo - Vamos sair daqui.
      Assim que coloco a alça da mochila no ombro, sinto borboletas no meu estômago. Um vulto acaba de passar por entre as janelas. Talvez o cara esteja apenas caminhando... Conclusão errada, moreno, sem camisa, segurando um guarda chuva, ele aparece sobre o banco do motorista. À essa altura, já tínhamos tropeçado umas nas outras e estávamos entre os bancos, mas é impossível ele não ter percebido. A van deve ter balançado quando corremos, além disso a Summer gritou quando sem querer puxei seu cabelo. Sem jeito, o rapaz disse:
- Meninas, preciso estacionar a van em outro lugar.
     Arregalei os olhos e tapei a boca. Não tinha acreditado no que acabou de acontecer.
     Ele dirigiu até o pátio de uma casa, provavelmente a sua e abriu a porta. Tereza foi a primeira a descer, as outras seguiram. Atrás de mim, somente a Summer. Ao colocar o pé esquerdo no degrau, cobri meu rosto com a mão, sem conseguir conter a risada e a vergonha!
- Desculpe, é que a gente não tinha pra onde se abrigar - Summer disse ao garoto.
     Ele sorriu timidamente e disse que estava ''tudo bem''.
     Não tornei a olhar para ele. O único contato visual foi no momento em que ele entrou na van. Jamais teria coragem de encará-lo! Mas além disso, eu estava rindo feito uma idiota, todas nós estávamos.
- Ai Meu Deus! - falo em meio à risada.
- O que a gente tava pensando? - pergunta Summer - Isso foi loucura!
- Summer, não sei como você teve coragem de pedir desculpas! - exclama Tereza antes dos risos começarem novamente.
- Foi preciso! A gente sujou todo o chão.
- Pelo menos parece que ele entendeu - diz Nikki.

 

      Chegando na minha casa, me aproximei da porta e remexi na mochila até encontrar as chaves. Olho para a mochila, é sorte ela não ter molhado muito, se não teria de lavar. Preciso de um banho! Já estou sentindo muito frio e partes da roupa estão grudadas no meu corpo. Jogo tudo na cesta de lavar e entro para debaixo da ducha morna.
      Após estar de roupão, ouço a porta abrir, o ruído das chaves sendo colocadas em cima do balcão.
- Ken! - corri para abraçá-lo e nossos lábios se tocaram.
- Ei, como está? - pergunta ele.
- Bem! Foi o primeiro dia de aula na Academia Californiana. Eu e as meninas levamos um banho de chuva - começo a rir.
- ( risos ) Ah, desculpe não poder ir buscar vocês.
- Não, tudo bem! Foi engraçado até. E eu sei que você anda muito ocupado com as pinturas.
       Recentemente, eu convenci o Ken para abrir um estúdio de pintura, após me surpreender com seus desenhos. Desde então, ele passava horas e horas do dia lá, trabalhando para um empresário bem sucedido que vende as suas obras por um bom preço, por isso, Ken estava ganhando muito bem. Ele também costumava se encontrar com alguns amigos para jogar basquete no fim a tarde, por isso, chegava bem cansado.
- Da próxima vez, vou pintar um quadro aqui - ele conta.
- Ah é? Por que?
- O quadro é enorme, vai pedir muito tempo.
- Oh, entendo.
       Ele se afastou de mim para pegar a mochila, depois perguntou:
- Pode levar isso ao nosso quarto? Preciso de um banho.
-Tudo bem, eu deixo a toalha no banheiro.
- Ta, obrigado.
      Coloquei a mochila na mesa perto do computador e após levar a toalha até o box do banheiro, deito na cama. Sacudo os travesseiros a fim de ajeitá-los e puxo a coberta até os ombros, repousando a cabeça. Logo adormeço.

 

3. { Capítulo Três }
     Pego minha bolsa após sair do vestiário e largo-a na mesa perto das garotas, sento e começo a calçar a sapatilhas de balé. Olho de relance para a porta fora da pequena sala avistando Privet se aproximar de um grupo de alunas. 
- Vamos - digo - Acho que a diretora tem avisos.
       As garotas levantaram-se e me seguiram. Conforme avançávamos na sala de balé, outras alunas também se aproximavam e Privet aguardava pacientemente. Depois do barulho cessar e todas as alunas estivessem paradas na frente dela, começou a dizer:
- Queridas alunas. É tradição na Academia Californiana haver diversas comemorações durante o nosso calendário escolar. Devem estar lembradas quando mencionei ontem, mas resolvi anunciar a surpresa hoje. Para comemorar o início das aulas, tenho o enorme prazer em dizer que neste próximo sábado, faremos uma viagem para Paris!
      O salão foi abafado de aplausos, gritos e risos!
- Não acredito! - diz Summer impressionada.
       Já fui algumas vezes para Paris, visitar minha tia Millicent, ela é estilista e tem uma confecção própria. Embora ela venha frequentemente para Los Angeles, adoro ir para lá, tudo é tão bonito!
       Privet fazia um gesto calmo com as mãos para acalmar o barulho.
- Agora prestem atenção - continuou ela - Nós pegaremos o avião aproximadamente às dez da noite de sexta-feira, para chegarmos lá de manhã. Vocês ficarão em um hotel e poderão ter passeios na cidade para tirar fotos. Espero que se divirtam e gostem da viagem, pois a finalidade é apenas passeio. Agora, voltamos com a nossa aula normal.
       Foi quase impossível se concentrar e fazer as atividades de aula normalmente, porque o assunto da viagem gerava, de fato, uma certa ansiedade.

 

       À noite, eu assistia filmes no sofá quando Ken chegou.
- Olá - o cumprimentei.
- Oi querida. Ah... estou exausto! - Ele caminhou para a cozinha e apoiou as mãos na mesa, ofegante.
       Caminhei até ele e sorri.
- Mas o esforço vale muito!
- Espero que sim. Pintei durante três horas, as minhas costas estão me matando! Depois treinamos basquete... ah!
       Ken caminhou até a geladeira. Pegou um jarro de suco de laranja e o serviu num copo.
-Tem algo que eu poderia fazer? - pergunto.
- Não, não. Obrigado - e levou o copo à boca.
- Tudo bem, tenho uma novidade.
- O que é? - ele virou e olhou para mim.
- Sábado a academia fará uma viagem para Paris!
       Ele sorriu.
- Puxa! Mas vou passar o fim de semana sozinho?
- Ah, será só sábado. Domingo à tarde estarei em casa.
- Hum, viagem rápida.
- É... bom, é só para passeio. Para comemorar o início do ano.
- Entendo.
       Após beber, guardou a jarra de suco e colocou o copo virado sobre a pia.
- Vou para o banho - diz ele.
- Está bem.

 

       A semana passou tão rápido! Só imaginava que daqui algumas horas estaria na cidade da luz, Paris. Já eram nove e meia da noite de sexta-feira, só havia a diretora e as alunas na escola, por isso, tudo estava pouco iluminado, não havia luz no corredor, somente nos quartos. Já estávamos quase terminando de fazer as malas.
- Ai, estou tão ansiosa! - diz Summer.
- (risos) Quem não estaria? - diz Tereza.
      A diretora Alexandra apareceu na porta do nosso quarto e começou a falar:
- Vamos meninas, temos de estar no aeroporto daqui a dez minutos, as limousines já estão esperando.
- Já estamos indo - falo para ela.
      Verifiquei se não tinha esquecido de nada. Roupas, calçados, dinheiro, passaporte... Remexia a bolsa para descobrir.
- Estão prontas? Pegaram tudo? - pergunta Tereza.
- Acredito que sim - fechei a mala e a bolsa.
      Nós fomos até a entrada da escola. De grupos em grupos as alunas entravam nas limousines. Eu estava sem sono, mas o vento estava muito frio, fazendo com que eu abraçasse o meu bolero branco que eu segurava nas mãos. Virei a cabeça para tentar retirar os fios de cabelo do rosto e acabo avistando a Raquelle e a Midge.
- Ei, Raquelle, Midge! - ergui o braço para chamá-las.
       As duas se viraram, sorriram e correram até nós.
- Oi! - cumprimentou Midge.
       Tereza se aproximou e a abraçou perguntando:
- Olá, com estão?
- Bem, e muito ansiosas!
       Também se aproximaram de nós as outras duas garotas que faziam parte do grupo da Midge, Lucy e Delancey. Ambas são muito amigas da Midge e da Raquelle, mas eu, a Tereza, a Nikki e a Summer ainda não as conhecíamos. Estendo a mão para cumprimentá-las.
- Olá, prazer em conhecê-las.
- O prazer é nosso - respondeu Lucy.

       No avião, conseguimos pegar a fileira de quatro bancos, por isso sentamos eu, a Tereza, a Summer e a Nikki juntas. Ajeitamos as bagagens e nos acomodamos com travesseiros e cobertores. Conversamos um pouco e depois adormecemos.

 

       Acordei sentindo a luz do sol no rosto. Abri os olhos devagar e me aproximando da janela, avistei a Torre Eiffel, encobrida quase pela metade por uma espessa névoa.
- Summer, ei, acorde - começo a balançar os seus ombros até perceber que ela acordou - Nós chegamos.

       O desembarque foi rápido e nós fomos imediatamente para o hotel.
- Muito bem meninas - começou Alexandra - Deixem as bagagens e vamos para o café. Aproveitem a tarde para passear pela cidade. Às 8 horas da noite, iremos até um restaurante da Torre Eiffel.
       É claro que os empregados do hotel já haviam levado as malas maiores, portanto ficamos com as bolsas. O quarto tinha paredes cor de café-com-leite, e seus móveis eram brancos.

       A tarde esperada havia chegado, para darmos umas voltas em Paris. As ruas são cheias de vida, há muitos jardins com bancos, flores, luminárias antigas...
- Eu tenho de cumprimentar alguém em Francês! - exclama Summer.
      Eu sorri. Um homem idoso, vestindo um longo casaco cinza se aproxima caminhando apressadamente, seu rosto está por trás da sombra que seu chapéu deixa. Summer sorri e eu já adivinhara o que estava para acontecer.
- Bonjour! - disse ela.
      As mãos vazias do homem foram até sua cabeça e voltaram em reverência com seu chapéu dizendo:
- Bonjour mademoiselle!
      O rosto da Summer se iluminou mais ainda. Ela girou, fazendo seu cabelo ruivo balançar com o vento. Olhando para nós ela exibiu um sorriso, então todas nós rimos.
      Caminhamos até a Torre Eiffel. O céu estava limpo, e na tentativa de olhar para cima, os meus olhos ardem.
-Vamos pegar o elevador? - pergunto.
- Acho que devemos deixar isso para o jantar - responde Nikki - De qualquer modo poderemos subir.
- Ta. Mas então, pra onde vamos?
       Nikki retira o celular do bolso e responde:
- Quero tirar umas fotos naquela ponte.
      A 'Pont d'Iena', o principal acesso direto à torre Eiffel. Com certeza dá a oportunidade de tirar belas fotos, pensei. Caminhamos sobre a ponte, encostei meu quadril no concreto junto com a Tereza e a Summer. Ficamos num bolinho, Nikki segurava o celular. Sorriam! Nós quatro sorrindo e o rio ficou no fundo da imagem, estava lindo! Nikki levou o celular para o lado e fotografou a torre Eiffel.
- Antes de vir pra cá eu fiz uma pesquisa sobre as melhores lojas de Paris - Tereza disse enquanto mexia no celular - Para comprar roupas, podemos ir até a Pimkie, Forever 21 ou comprar maquiagem na Sephora...
- Oh, é ótimo que você tenha feito um cronograma! - digo.
- Preparei isso tudo nesta semana - continuou ela - Pesquisei em todos os sites que pude, as melhores lojas de compras de Paris. Ah, e depois poderemos lanchar na 'Brioche Dorée'. O que acham?
- Claro - respondo - Podemos ir a todos esses lugares!

      Existem várias lojas Pimkie em Paris, mas nós fomos até a rua Boulevard Saint-Michel. A loja é realmente uma das melhores da cidade. Entre tantas e tantas opções, é difícil escolher as roupas. Acabei comprando uma blusa top crooped com saia, uma blusa com renda e um short azul claro. Depois, pegamos táxi até a Avenue des Champs-Élyssées, para comprar na Sephora. Eu não precisava de maquiagem, então acabei comprando apenas um delineador.
- Meu Deus, já são quatro e vinte! - disse Nikki após olhar para o celular.
- Tudo bem - diz Tereza - Já compramos o suficiente.
- Então vamos para a Brioche Dorée, estou faminta! - fala Summer.

 

      Brioche Dorée fica na mesma rua da Sephora, é só dobrar uma esquina.
      Após pegarmos uma mesa, analisei o cardápio. Tanta coisa maravilhosa! Havia croissants, sanduíches no geral, tiramisus, musses, porções de fruta em copo (morango, melão e abacaxi), muitas e muitas opções de pães com Nutella.
- Ai caramba! - exclama Tereza.
       Diante de todas essas palavras do cardápio, sugiro:
- Pegamos um pouquinho de tudo, então dividimos.
- Pode ser - diz Nikki.
      Pedimos pelo menos três de cada, tiramisu com framboesas, copo de fruta morango e melão, sanduíches de frango, tomate e queijo, croissant com Nutella e café com creme. Me empanturrei de tanta comida, estava tudo ótimo! Meu celular começa a vibrar, uma mensagem. Era do Ken ''Como está tudo aí em Paris?'' digitei de volta para ele. Summer inclinou a cabeça para visualizar:
- Awn.
- O que foi? - pergunta Tereza.
- Nada não - respondo - É apenas uma mensagem do Ken.
- Ah, deixa eu ver? - pergunta ela.
      Alcancei o celular para a Tereza. Antes de ler, ela mordeu os lábios e exclamou:
- Hum, eu ainda nem olhei a minha caixa de mensagem.


 

      Às sete horas estávamos de volta ao hotel. Depois da ducha vesti o roupão e caminhei até as minhas bagagens. Coloquei tudo em cima da cama, remexi entre tecidos e tecidos. Escolhi um vestido preto de alças finas e abertura nas costas e um par de sandálias brancas. Meu cabelo ficou em coque bagunçado e em meus olhos um delineado, aquele que acabara de comprar, pois não havia levado o meu para cá, pensei que não usaria.
      Na entrada do hotel, nos encontramos novamente com a Midge e a Raquelle que nos cumprimentou:
- Olá, como estão?
- Estamos em Paris - Tereza falou erguendo os braços - Como acha que estamos?
       Lucy sorriu e perguntou:
- Para onde vocês foram? Nós fomos para muitas lojas, mas a melhor era Forever 21.
- Ah, nós não fomos pra lá! - diz Summer.
- Pois é - continuou Tereza - Eu coloquei na lista mas não tivemos tempo. Além disso eu não tinha o nome da rua.
- Fica na Rue de Rivoli - responde Lucy.
- Oh, tudo bem - diz Nikki - Compramos o suficiente.
      Carros individuais buscaram as alunas por grupos, chegando à torre Eiffel, pegamos o elevador. Enquanto subíamos, as grades projetavam a sombra da luz da cidade que dançavam na nossa pele. Aos poucos, um som de violino foi invadindo o ambiente, havia um grupo de violinistas tocando ao vivo. Cada grupo ficou com uma mesa e a maioria se localizava perto do vidro, de onde dava para ver a cidade.
- Um brinde! - disse a diretora enquanto erguia uma taça - À todas as meninas talentosas da nossa escola!
       Aplausos soaram de todas as alunas.

 

4. { Capítulo Quatro }
     Aquela noite estava agradável, as meninas e eu estávamos voltando ao hotel. Por causa do frio, eu já vestia um blazer que havia levado junto ao jantar na Torre Eiffel. Ao passar pela recepção, seguimos um grupo de pessoas que entrariam no elevador disponível, aos poucos ele ficou cheio, fazendo com que eu e Tereza não conseguíssemos entrar. Visualizei Summer e Nikki já dentro do elevador e disse:
- Tudo bem, vamos pelas escadas.
       Elas concordaram com a cabeça.
- O que? - diz Tereza - Podemos esperar o próximo elevador. 
- Ele está lá pelos últimos andares. Até ele descer já teremos subido, vamos é logo ali. 
       Tereza pestanejou, mas me seguiu rumo às escadas. 
- Eu prefiro mesmo vir pelas escadas - digo - Detesto elevadores.
       O nosso quarto ficava no quarto andar, por isso, não demorou até que chagássemos no nosso andar. Vazio, o corredor estava pouco iluminado, com pequenos abajures na parede. Tereza chegou à nossa porta e a abriu, entrando primeiro. Antes mesmo de eu aparecer na porta, alguém me agarrou por trás e tapou minha boca, eu não consegui gritar. Inalei algo que me fez ficar zonza, as minhas costas já estavam no chão, quando meus olhos produziam uma imagem borrada, então um indivíduo apareceu.

 

     Acordei sentada no banco da frente de um carro em andamento. Estava com cinto de segurança, era necessário para me manter ali, ao considerar a velocidade em que estávamos. Quem estava ao volante tinha os cabelos louro-escuros e bem lisos. Só pode ser ela. Assim que virou para mim pude concluir, era Lauren, uma das nossas colegas. O que ela estava fazendo? Nunca tínhamos conversado, ela era bem pouca conhecida por mim e as garotas, nós só a víamos fazendo as atividades da escola normalmente. ''Pra onde está me levando?''. Eu só podia ver o asfalto, naquela rua não havia luzes, parecia que estávamos saindo da cidade. A curiosidade não me deixou quieta.
- Para onde estamos indo?
      Ela não respondeu. Ao invés disso, me encarou e sorriu de forma intimidadora.
- Porque está fazendo isso? - pergunto.
- Porque eu preciso acabar com você e as suas amigas.
- Hã?
- É bem complicado, mas logo você vai descobrir.
- Não! Pare o carro! Não te conheço, nunca desejei mal pra você.
- Eu também nunca desejei isso. Mas o destino pode ser cruel na tentativa de nos colocar em guerra.
- Não sei do que você está falando.
- Se acalma, ou vai ver o que acontece com o Ken.
     Enquanto ela falava, mexeu na bolsa e retirou uma faca. Naquele momento, voltei-me para trás do banco. Ela estava armada, não era brincadeira.

      Não tinha mais coragem de perguntar, ela não iria responder. Mas o medo me aterrorizava a ponto de sentir as minhas mãos tremerem. Eu precisava avisar as meninas, que estavam no hotel e provavelmente já preocupadas. Lauren estava acelerando cada vez mais, e fiquei com medo de sofrermos um acidente.
       ''O que eu vou fazer, o que eu vou fazer?'' Para fora da janela só vejo o vulto das árvores que passam rapidamente enquanto meu reflexo aparece junto delas no vidro. Assim fico, olhando para mim mesma, bem no fundo dos meus olhos, custando a reparar no vasto azul deles, misturado com desespero e com a escuridão lá de fora. É uma rua completamente vazia. Logo à frente, me deparo com uma placa: Chevilly Larue. Olho novamente para a Lauren e na minha cabeça começo a misturar ideias de fugir dali. Pego o meu celular e o escondo por dentro do blazer, para que a ela não suspeite de nada, digito uma mensagem para a Tereza e envio. Lauren continua com as mãos no volante enquanto eu observo o freio de mão, mas precisava de mais tempo. Precisava saber se alguém poderia me ajudar quando o carro parasse, pois ela viria atrás de mim com certeza.
       Depois de pelo menos dez minutos um ponto de luz aparece refletida no espelho retrovisor, um carro está se aproximando. Lauren fita os olhos no espelho e quando está prestes a acelerar, puxo o freio de mão, fazendo o carro frear bruscamente. Depois do impulso, volto para o banco solto o cinto de segurança, abro a porta e corro. Além de muitas árvores perto da rua, agora eu podia observar uma curva bem a frente, estávamos diante de um morro de pedras. Em meio a corrida e ao desespero, olho para trás para ter certeza que ela não está me alcançando, mas o frio no meu abdômen me faz perceber que ela já está atrás de mim. Lauren agarrou meu pé esquerdo e caí de joelhos, tentei tirá-la de cima de mim, mas não consegui. Dava para ver o ódio em seus olhos, pareciam queimar ao mesmo tempo que ela cerrava os dentes. Com um forte impulso ela avançou a faca perto do meu pescoço, mas usei toda a minha força para segurá-la, então, consigo girar meu corpo para o lado, jogando ela para perto do limite do morro. Lauren estende os braços para tentar se segurar nas pedras, as suas mãos estavam apertadas às rochas, arranhando e se movendo desesperadamente, mas ela cai e eu a ouço a gritar enquanto seu corpo bate nas pedras. Chorando, tapei a boca sem acreditar no que tinha feito. No carro que se aproximava, estavam as garotas, elas saíram rapidamente do carro e vieram até mim.
- Barbie! Você está bem? - pergunta Tereza.
       Sem dizer nada, me aproximei dela e a abracei. Eu estava pasma e só ficava imaginando o que aconteceria depois. Ela realmente tentou me matar.
- Vem, vamos te tirar daqui - diz Nikki.

 

       De volta ao hotel, tomei um banho novamente e sentei na cama enquanto as meninas falavam sobre o ocorrido. Eu apenas guardava meus pertences na mala, porque no dia seguinte iríamos embora.
- Então a mensagem era verdade - diz Nikki.
- O que vamos fazer? Acha que devíamos avisar a polícia? - sugeriu Summer.
- Não - responde Nikki - Já estamos indo embora. Além disso vamos nos encrencar, porque eles vão descobrir que a Barbie empurrou a Lauren.
- Acha que ela morreu? - pergunta Tereza.
       Nikki pensa na pergunta da amiga e responde:
- Não há como ter certeza, mas... provavelmente sim.
- O que ela quer conosco? - pergunta Summer.
       Então todas viraram-se para mim. Me fitaram nos olhos em silêncio até que eu começasse a falar. Suspirei e comecei devagar:
- Eu não entendi direito, mas lembro dela ter dito que o destino pode ser cruel a ponto de nos colocar em guerra.
- Guerra? Tem alguma coisa mística por trás disso? - ironiza Tereza.
- Eu não sei - respondo - Mas ela ameaçou todas nós, inclusive o Ken.
- Mas como ela conhece o Ken? - pergunta Summer.
- Se ela quer acabar com a gente, deve estar nos observando a dias - responde Nikki.
- Isso mesmo - digo - Se é que vai acontecer mais alguma coisa, só nos resta esperar.
       Voltei a olhar para a mala que já estava cheia, então puxei o reco. Tereza caminhou até a sua cama e disse:
- Vamos dormir.
       Todas concordaram. Apagam-se as luzes.

 

5. { Capítulo Cinco }
       Eram oito horas da manhã quando acordei ao ouvir alguém bater na porta. Eu ainda estava na cama, mas as meninas já estavam de pé. Nikki foi até a porta, era a diretora.
- Bom dia meninas.
- Bom dia - responde Tereza em um tom nada animado.
- Deixamos por livre escolha onde vocês tomariam o café da manhã, o hotel não servirá. Aproveitem para dar uma volta na cidade antes de irmos embora - avisou-nos a diretora.
- Tudo bem - concordou Nikki antes de fechar a porta.
       Me virei na cama, ajeitando o edredom já bagunçado. Após um longo bocejo, digo:
- Não estou com vontade de ir para a cidade.
- Tudo bem - diz Tereza - Eu e a Summer podemos ir até a padaria mais próxima comprar algo.
- Ótima ideia - diz Nikki.
       Quando as duas já tinham saído, Nikki caminhou até a janela e se mostrou chocada.
- Barbie, olha!
       Apesar dela não ter dito alto, me assustei com seu tom de voz, então eu levantei e corri até a janela. Olhei para baixo, assim como ela, visualizando a entrada do hotel. Lá estavam a Lauren e Evelyn, sua amiga, elas estavam rindo e conversando como se nada tivesse acontecido. Ela estava perfeitamente bem, não havia nenhum machucado, curativo ou faixas.
- Meu Deus - digo ainda olhando para ela - Eu sei que vi ela cair de lá!
       Como isso era possível? Se ela sobrevivesse a uma queda daquelas, deveria ficar paraplégica, ou se tivesse muita sorte, ao menos apresentaria algum machucado, como um braço quebrado... talvez um hematoma, um arranhão! Mas não havia nada. Nikki começou a puxar a cortina e diz:
- Vamos entrar, ela pode nos ver.

 

       Tereza e Summer chegaram com a comida.
- O que compraram? - pergunta Nikki.
- Um copo de café para cada uma, croissant' s e porções de melão - responde Summer.
       Pego os pacotes de papel da Summer e coloco em cima da cama. Após desenrolar a dobra do papel, pego um pedaço do croissant. Já que não tomei a iniciativa de contar à Tereza e a Summer sobre a surpresa de hoje de manhã, Nikki começa a falar:
- Vocês não vão acreditar quem a gente viu na entrada do hotel.
       Tereza e Summer olharam para a Nikki com ar de preocupação.
- Lauren - Nikki continuou - Ela estava ali na entrada do hotel rindo como se nada tivesse acontecido.
       Elas apenas olhavam para nós.
- Mas como... - Tereza faz uma pausa e Nikki continuou:
- Não sabemos.
       Summer caminhou até a minha cama, sentou, pegou um pedacinho de melão e continuou a falar.
- É mistico mesmo Tereza - ela sorriu ironicamente.
     
 

- Não esqueceram de nada? - Perguntou a diretora enquanto andava descontroladamente de um lado para o outro, passando por entre as alunas para se certificar dos passaportes.
- Sim diretora Privet. Está tudo aqui - responde Tereza.
- Muito bem.
      Às dez horas nós estávamos ali no aeroporto. As alunas começaram a embarcar no avião. Éramos as últimas da fila e a Lauren já havia entrado.
- Vamos tentar ficar longe dela - sugere Summer.
- Somos as últimas - continua Nikki - Vamos ter de ficar nos lugares onde sobrar.
- Pouco provável que seja perto dela - digo.
       Tereza foi a primeira, entrei em seguida e olhei apreensiva ao meu redor. Ela estava bem na frente, ainda ajeitando as bagagens. Nosso lugar era no fundo do avião, perto da Raquelle, Midge e Lucy.
- Ufa! - suspira Tereza.
       Foi um alívio. Pensar dessa forma parecia exagerado, afinal, o que ela poderia fazer dentro do mesmo avião em que estaria a diretora e as alunas? Mas depois do que tínhamos passado eu não queria mais ficar perto dela. Distância para prevenir.
- Olá meninas! - eu disse para a Midge e as amigas.
       Fiquei quase na ponta dos pés para guardar as bagagens. Summer pegou dois cobertores, um para mim e para ela, outro para a Tereza e a Nikki. Sentei novamente ao lado da janela, pus o cinto e comecei a ajeitar o cobertor.
- Foi uma ótima viagem - disse Midge.
- Com certeza! - concorda Raquelle.
- Mas eu gostaria de ficar mais tempo. Talvez mais uns dois dias - continua Midge.
       Summer sorriu e conversou com elas:
- É, mas temos muitos projetos da academia. Precismos praticar muito antes das apresentações de outono.
- Tem razão - diz Midge.
     
 

       A viagem foi longa e eu não dormi em instante algum. Chegamos em Los Angeles por volta das cinco horas da tarde e seguimos cada uma para a sua casa.
       Assim que cheguei percebi que Ken não estava em casa. Não sabia o motivo, mas ele estava muito ocupado nas últimas semanas, então deduzi que ele estivesse treinando. Após o banho, passei a mão sobre o espelho, retirando o que o vapor deixou e comecei a pentear meu cabelo. Foi quando Ken chegou.
- Oi amor - diz ele.
- Oi - respondo.
      Ele veio até mim. Deixei seus braços me envolverem, sentindo seu calor, sua respiração. Ninguém pode ousar machucá-lo.
- Senti sua falta. Como foi a viagem?
       As lágrimas começaram a se formar e ele só notou quando levantei a cabeça.
- O que foi? O que aconteceu?
       Caminhamos até o sofá. Ele me olhava fixadamente.
- Uma das nossas colegas tentou me matar - contei.
- O que?
       Respirei fundo para voltar a falar.
- Ela me levou até uma estrada vazia, perto de um morro cheio de pedras. Disse que odiava a mim e as minhas amigas, aí ela me atacou com uma faca mas eu... a empurrei de lá.
- Você empurrou ela do morro?
- Sim, e no dia seguinte ela estava... bem! Como se nada tivesse acontecido. Ela... ela ameaçou matar você!
       Saíam mais lágrimas e escorriam pelo pescoço, usei as mangas para limpá-las. Ken ainda estava confuso, mas tentou me conformar. Ele me abraçou novamente.
- Calma, vai ficar tudo bem.
- O que ela quer comigo?
       Seus dedos acariciavam meu cabelo.
- Ela falou mais alguma coisa?
- Disse que o destino nos colocaria em guerra.
       Ele voltou para trás e franziu a sobrancelha. Ficou com o olhar fixo em mim, e havia algo nisso que eu não sabia explicar, é como se ele lembrasse de algo e tentasse encaixar os fatos na cabeça. Estava confuso.
- O que foi? - pergunto.
       Seu olhar estava voltado para o chão, seus olhos moviam-se procurando a melhor maneira de me dizer algo.
- Barbie, me desculpe, mas não posso lhe contar nada agora.
       As suas palavras soaram estranho e eu fiquei confusa.
- O que? Do que você está falando?
- Acho que sei porque isso aconteceu, mas não posso te falar nada agora.
       Eu ainda me sentia estranha, mas agora estava com raiva.
- Como assim? Não me diga que além disso tudo acontecer, você não vai me dar explicação alguma!
- Por favor Barbie - disse me interrompendo - Eu juro que farei tudo para proteger você e a mim mesmo, mas agora, não posso lhe contar nada.
       Só quando ele terminou a frase, percebi que eu estava olhando bem nos seus olhos e eles estavam falando a verdade. Voltei- me para trás do sofá e limpei as lágrimas em silêncio. Ficamos assim por alguns instantes até que ele falou calmamente:
- Tudo bem?
       Ergo os olhos para voltar a olhar pra ele e respondo:
- Tudo bem.

 

6. { Capítulo Seis }
     Acordei. Só havia eu na cama, Ken já devia ter ido para o trabalho. Fiquei pensando sobre o que ele me disse ontem, e de fato, quis confiar nele, mas ao mesmo tempo, as lembranças ruim da viagem não paravam de me perturbar. Eu estava preocupada, pois realmente o amava e não queria perdê-lo. Se alguém olhasse para mim agora, diria que está tudo bem, mas não é possível sentir a dor, não é possível saber o que se passa pela minha cabeça. Lauren já me atacou, eu sei o quanto senti medo e não quero que ela faça algo parecido com o Ken.
       Ainda pensando nisso, levanto da cama e visto o roupão. Começo a caminhar devagar e quando estou chegando na cozinha me deparo com o Ken de frente para a mesa preparando o café.
- Oi - diz ele.
      Assim que ele sorriu, reparei seu cabelo desajeitado e seu peito nu. Ele estava com ar de travesso, mas continuava lindo.
- Oi - retribuí o sorriso - Ham, você não precisav...
- Eu sei. Mas fiz o café.
- Obrigada.
      Fui até a mesa e sentei, pegando uma fatia de pão com gergelim. Ele se sentou também, começou a misturar o açúcar na xícara, fazendo a mistura preta espalhar vapor pelo ar.
- Mas, você não vai se atrasar? - pergunto.
- Estou de folga hoje - ele responde antes de levar a xícara aos lábios.
- Que bom! Isso me deixa menos preocupada.
      Ken inclinou a cabeça para o lado, dando a entender.
- Você não devia ficar assim. Eu sei me cuidar.
- Eu também pensei que sabia.
       Seu olhar voltou para a mesa procurando uma resposta.
- Eu sei do que ela é capaz - continuei - Lauren devia ter morrido ao cair de lá.
       Agora ele olhava para mim.
- Tudo bem - sua mão pousou sobre a minha - Não estamos sozinhos. Temos a Tereza, a Summer, a Nikki, Ryan, Eric, Will, Raquelle, Midge, Lucy...
       Ele tinha razão, nós estávamos juntos e podíamos dar um jeito nisso. De qualquer modo, eu não poderia ficar pensando nisso o tempo todo, então concordei.
- Ta bom.

 

       Só sei que a nossa primeira aula era no ginásio, não prestei muita atenção no horário. Caminhando para lá, descobri que iríamos jogar basquete.
       Já estávamos vestidas com regata e shorts quando separaram os times. Fiquei junto com a Tereza, Summer e Nikki ficaram em outro time, e agora elas estavam jogando. Após correr quicando a bola no chão, Lucy a passou para Raquelle. Ela girou desviando de uma garota que a marcava e jogou para Nikki que arremessou a bola em cheio na cesta. Elas riram e levantaram os braços para comemorar.
       Minhas mãos foram até o bolso para pegar o celular que vibrava. Toquei a tela para ler a mensagem: ''As vadias estão mandando bem''. Olhei desesperadamente a minha volta à procura de alguém suspeito, mas só consegui ver as outras garotas conversando na arquibancada e Beth no jogo. Deveria ser alguma das suas amigas. Afinal, quem mais estava por trás disso?
- Oi Barbie! - diz Summer.
- Oi! - respondo.
- Tenho uma novidade - continua ela - Sabe aqueles projetos que temos de fazer para a escolha da profissão?
- Aham.
- Eu estava em dúvida entre seguir carreira de balé ou culinária. Fiquei com a segunda opção, vou abrir uma loja de doces!
- Oh Summer! Isso é ótimo!
- Sim! O Eric me ajudou a encontrar o lugar, mas acho que vou precisar da ajuda de vocês nos primeiros dias.
- Claro! O que quiser é só pedir.
- Meninas! - A diretora chamou do outro lado do ginásio - é a vez do seu time jogar.

 

      No almoço, sentamos nas mesas do lado de fora do restaurante.
- Alguma coisa aconteceu com vocês? - pergunta Nikki.
- Só mensagens - respondo.
- Sei, e que tipo de recado nossa amiga deixou? - diz Tereza ironicamente.
- Estava escrito: ''As vadias estão mandando bem".
- O que? Ela chamou a gente de vadias? - pergunta Tereza com raiva.
- É, como sempre - respondo.
- Mas a Lauren estava no jogo - percebe Summer.
- Exatamente - continuo - Esse problema é maior do que pensávamos, há mais pessoas por trás disso.
- Ótimo! - reclama Summer - Já é difícil fugir de uma psicopata, então pense se for um grupo. Eles podem matar todos nós!
- Precisamos criar formas de nos proteger - sugere Tereza.
- Como o que? Aulas de luta? - pergunto.
- Ainda acho muito cedo decidir o que treinar - diz Nikki - Temos de ter certeza com o que estamos lidando.
      Nenhuma de nós sabia o que dizer. Estávamos preocupadas o tempo todo, e devíamos esperar? Esperar pelo que? Que a Lauren corresse atrás de nós até nos alcançar e acabar com uma de cada vez? Só percebo que estava tão distraída quando o sinal toca.

      Naquela aula, eu não estava concentrada, ficava pensando sobre o que aconteceu na viagem, tudo era estranho, e eu não parava de me preocupar com o Ken. De qualquer modo, eu esperava que tudo isso acabasse, por isso, tentava me distrair com as atividades.
       ''Tudo bem'', disse a mim mesma, é o último período de aula, e já está acabando. Nesse instante, a diretora apareceu para dar avisos.
- Boa tarde. Gostaria de anunciar que vamos realizar algumas apresentações antes dos balés de outono, então deverão ser feitos logo, já que é preciso tempo para ensaiar. Todas ficarão divididas de quatro em quatro integrantes, ou seja, cada uma em seu grupo. Juntas, devem escolher um figurino de um balé específico e uma música de sua preferência para fazer uma coreografia e apresentar daqui pelo menos três semanas.
       E foi assim que percebi que os nosso pés iriam doer muito nas próximas semanas. Tereza se mostrou indignada:
- Meu Deus, como vamos fazer isso? - disse cochichando para nós.
       Alexandra percebeu isso por parte das alunas e voltou a falar.
- Tudo bem meninas, o horário para o balé será dobrado. Precisamos disso para avaliar a criatividade e trabalho em grupo. Acredito que nesse intervalo de tempo, todas consigam se apresentar. Mais uma coisa: No próximo fim de semana haverá o baile de abertura do ano escolar, como de costume, será realizado no castelo, às oito da noite. Vocês poderão levar acompanhantes.

 
     
- Isso é muito legal! Vamos conhecer o castelo! - diz Summer enquanto caminhávamos para casa.
- Não - fala Tereza - Você esqueceu do que a Lauren tentou fazer com a Barbie? E agora? Devemos ir?
- Claro que sim! - responde Nikki - Não vai adiantar ficar se escondendo. Os rapazes estarão com a gente.
-Tem razão - concorda Summer.
- Não sei não - continua Tereza - O que você acha Barbie?
       Paro e penso um instante, eu estava com medo sim, mas nunca vou deixar que isso me aborreça a esse ponto.
- Eu acho que a Nikki tem razão. Vamos nessa!
       Summer sorriu e disse:
- Isso!
- Ah, ta bem - diz Tereza revirando os olhos.
- Então está combinado - fala Nikki - Sábado, festa no castelo.
- Vai ser ótimo! Já vou avisar ao Eric - continua Summer.
- É, lembrem de obrigá-los a ir - diz Tereza - Vou me sentir mais segura.
- É claro - digo.
- Ah, falando nisso, devíamos fazer alguma coisa na praia, sexta feira depois da aula - sugere Nikki.
- É, vamos surfar um pouco - digo aprovando a ideia.
- Tudo bem, eu levo a comida - fala Summer.
       Vi que já estávamos perto da minha casa, resolvendo assim encerrar o assunto.
- Então, nos vemos amanhã.
- Certo, tchau - responde Tereza.

 

       Após abrir a porta, coloquei as chaves sobre a mesa da cozinha, e caminhei até a sala para deixar a bolsa. 
- Oi.
       Meu estômago gelou na hora, mas eu reconheceria esse tom de voz em qualquer lugar. Me virei para vê-lo de pé perto da porta do quarto.
- Ai meu Deus! Você me assustou.  
       Ken ergueu as sobrancelhas e sorriu.
- Não fiz nada demais. 
- Claro, só que eu estou acostumada em chegar em casa estando sozinha. 
- Treinamos só até as quatro hoje. 
- Hum. Ah, sexta, a Nikki sugeriu irmos pra praia, então, depois de voltar do treino venha até lá. 
       Naquele momento, lembrei que teria de convidá-lo para o baile, então sentei no sofá e remexi na mochila até achar o convite. 
- Você está livre no sábado, não é? - pergunto.
- Estou, por que?
- Vai ter um baile na Academia Californiana, pra comemorar o início do ano letivo. 
       Após sentir os papéis dentro da mochila, os puxei, mostrando à ele os dois convites. 
- Aqui estão. 
       Ele deu dois passos para perto do sofá e pegou um dos pequenos papéis. 
- Hum... um baile? Tem certeza? - pergunta ele.
- Claro! Vamos estar todos juntos como você disse. 
       Ele voltou a olhar para o convite. 
- Eu pedi à Tereza, a Summer e a Nikki para chamar os rapazes - continuo - Não podemos ficar nos escondendo dela. 
       Após um momento de silêncio ele assentiu.
- Tudo bem.
       Sorri entusiasmada.
- Obrigada! 
       Ele sorriu também e se aproximou para me beijar. 

  
  

7. { Capítulo Sete }
       Sexta-feira, eu e Ken tínhamos acabado de almoçar quando as garotas chegaram para ir à Academia. Pedi à ele que levasse a minha mochila até a porta.
- À que horas você vai ao estúdio? - pergunto.
- Às duas horas. 
- Ta legal - respondi enquanto colocava a mochila nos ombros - e vocês vão treinar basquete?
- Sim.
- Por favor, tome cuidado - disse cochichando enquanto abraçava ele. 
- Não se preocupe.
 

       Entramos no nosso quarto na academia para deixar as coisas.
- Estão prontas para a sessão de tortura? - pergunta Tereza.
- Do que você está falando? - Nikki pergunta também.
- O balé - responde ela - A partir de hoje vamos ensaiar sem parar.
- Ah, não vai ser tão ruim - diz Summer. 
- Vai ser ótimo! - digo empolgada - Vamos começar a coreografia hoje e eu já tenho algumas ideias. 
- Então vamos - continua Tereza - Pegaram tudo? 
- Sapatilhas, meias... é, está tudo aqui - responde Summer.
       Caminhamos até a sala de balé e nos deparamos com a diretora Privet de pé se preparando para falar. 
- Boa tarde meninas. Hoje começam os ensaios para a apresentação. Vocês tem três semanas para se preparar. Como a sala é bem grande, cada grupo deve escolher um lado da para ensaiar. Vamos ao trabalho! 
       Depois de estarmos vestidas com o maiô, as meias e as sapatilhas, fomos para o nosso lado da sala, ficava bem ao lado da vidraça. 
- Muito bem - começo - acho que primeiro nós deveríamos decidir a posição de cada uma na fileira.
- Vamos ficar lado a lado? - pergunta Nikki.
- Isso - respondo - O que acham? 
- Eu posso ser a primeira, você fica ao meu lado, Barbie. Depois a Summer e a Nikki - sugere Tereza.
       Assim, nós nos colocamos lado a lado.
- Podemos começar no chão. Olhem.
       Summer sentou com uma perna dobrada no chão, como na posição borboleta, e a outra perna para frente, mas não totalmente reta, com os joelhos um pouco flexionados. Nessa mesma perna, o pé se encontrava em meia-ponta. Os seus braços estavam juntos para frente, em cima da perna flexionada. Então, ela abaixou a cabeça, também para frente. 
- O que acham? - perguntou sorrindo após erguer a cabeça. 
- Está ótimo! - elogia Nikki.
       Summer voltou à posição inicial e erguendo os braços, continuou a falar.
- Assim, quando ouvimos o som do baixo começar, nós levantamos os braços dessa forma.
- Perfeito! - digo.
- E quando a batida começar? - pergunta Tereza - Como nos levantamos?
- A batida começa rápido, então, quando o som do baixo já estiver terminando, nós devemos levantar - responde Summer.
- Acho que não vai dar certo - diz Nikki - A sua ideia é ótima Summer, mas quando a batida começa devemos estar de pé. Se levantarmos no momento da batida vai ficar estranho, porque essa posição não nos permite levantar. 
- Hum, tem razão - admite ela.
- Tudo bem, então... e se começarmos assim?
       Tereza continuou de pé, o seu pé esquerdo ficava na frente virado para o lado e o direito cruzava a perna para trás e ficava em meia ponta. Essa é uma posição frequentemente usada para iniciar ou encerrar uma dança. Os braços estavam colados ao abdômen, levemente curvados.
- Quando a música começa, erguemos os braços devagar, como a Summer sugeriu. 
- Isso, gostei! - diz Summer.
- E depois que a batida começar:
       Me coloquei na posição. Levei o meu pé direito levemente curvado em diagonal para a frente do pé esquerdo, toquei a ponta no chão e voltei tocando o calcanhar do pé direito no meio do dorso do pé esquerdo. Ao mesmo tempo que o meu pé ia para frente, o braço direito continuava curvado em cima, já o esquerdo, ficava curvado para o lado. 
- Fazemos isso na primeira parte da música, quando ela diz ''blue jeans'', depois, mudamos o passo. O pé direito, ao invés de ir para a frente, vai para o lado, fazendo a mesma coisa.
( para entender melhor, você pode ver uma demonstração semelhante neste vídeo )
- Tocando a ponta do pé no chão e depois voltando duas vezes? - pergunta Tereza.
- Isso - respondo - Só que dessa vez, o calcanhar do pé direito não pode tocar o dorso do pé esquerdo, então nós voltamos o pé direito para trás do esquerdo. Nessa parte ela vai falar ''white shirt''.
- Ah, então nessa parte, os braços também podem mudar. Se antes o braço direito estava curvado para cima e o esquerdo para o lado, agora o direito fica para o lado e o esquerdo para cima - sugere Nikki.
- Ótima ideia! - digo.
       Summer se colocou na primeira posição e começou a falar enquanto fazia os passos.
- Blue jeans - o braço direito para cima e o esquerdo para o lado, o pé direito foi para frente e voltou, duas vezes - white shirt - braço direito para o lado e o esquerdo para cima, e o pé direito indo para o lado e voltando duas vezes.
- Ficou muito bom! - elogia Nikki.
- Vamos refazer essa parte? - pergunta Tereza.
       Nos colocamos em fileira, na primeira posição. Começo a citar o que vamos fazer:
- Tudo bem, o som do baixo começa... 
       Começamos a erguer os braços devagar enquanto eu citava os versos da música:
- Blue jeans, white shirt.
       Fizemos tudo e repetimos.
- Acho que estou pegando jeito - diz Tereza. 
- Ficou muito bom! E acho que na parte que vem em seguida nós podemos inverter - sugere Summer.
- Como assim? - pergunto.
- Duas de nós podem colocar o braço para o outro lado - continau ela - É como se a Barbie e a Nikki erguessem o braço esquerdo e eu e a Tereza o direito. 
- Ótima ideia! - diz Nikki.

 

       Ficamos praticamente a tarde toda ensaiando. Paramos às três para o lanche e depois voltamos para a sala de balé. Só paramos no último período, em que tivemos aula de música, depois seguimos para casa.
- Foi cansativo - diz Tereza - As minhas pernas estão doendo um pouco.
- Ah, tudo bem! - continua Summer - O melhor é que já fizemos a coreografia até o final do primeiro refrão. 
- Então, vamos pra praia? - pergunto.
- Vamos, claro - responde Nikki.
- Oh, tenho que ir à minha casa pegar os lanches! - diz Summer.
- ( risos ) O que você preparou? - pergunta Tereza.
- Bem... - continua ela - Eu ia fazer tortinhas de massa folhada e creme branco com morangos, mas acabou não dando certo.
- ( risos ) Por que não? - pergunto.
- A massa não ficou boa. Mas não se preocupem, porque fiz bolinhos recheados com doce de leite!
- Ah! Amo esses seus bolinhos! - diz Nikki.
       Concordo com a cabeça. Estávamos chegando na minha casa. As casas das garotas ficam logo à frente, então antes de falar, peguei o celular para ver a hora.
- Tudo bem, nos encontramos na praia... em quinze minutos? - pergunto.
- Pode ser - responde Summer - Só tenho que pegar os bolinhos e a roupa de banho.
- Eu vou preparar um suco - diz Nikki.
- Beleza - digo - Até daqui a pouco. 

 

       Percebi que haveria muita sombra na praia, pois o sol já estava se pondo no horizonte. Eu e Ken estávamos andando pela pequena trilha que leva até a praia. Antes de pisarmos na areia, precisamos descer o morro pelo qual a minha casa fica. Pelo que dava pra ver, as garotas já estavam lá, inclusive os rapazes, Ryan, Eric e Will. 
- Oi pessoal! - digo.
- Oi Barbie. - diz Tereza.
       Uma pequena mesinha havia sido montada, os bolinhos da Summer e os sucos estavam em cima dela. Me sentei perto das garotas onde haviam várias cadeiras de praia. Ken se aproximou dos rapazes e os cumprimentou com um aperto de mão.
- Então Ken, como vai o treino? - pergunta Ryan.
- Cansativo - responde Ken.
- Você continua com as pinturas? - pergunta Eric.
       Ken concordou com a cabeça.
       Ryan caminhou rumo à mesa dos bolinhos e perguntou:
- Hum, que bolinhos são esses?
- São os bolinhos com doce de leite da Summer - responde Nikki.
- Parecem ótimos - continua ele - Mas antes eu vou pegar uma onda. Aí Eric.
- Vamos - Eric correu e pegou duas pranchas de surf que estavam na arreia. 
- Meninas, eu também vou surfar - disse Nikki enquanto levantava da cadeira.
- Ta bem - diz Tereza.
- Eu até gostaria, mas perdi a vontade - fechei os olhos e encostei as costas na cadeira. 
- ( risos ) Tudo bem - continua Nikki - Só peço que deixem alguns bolinhos pra mim, eu quero comer hein!
       Nikki começou a correr e entrou na água.
- Não se preocupe, tem bastante! - diz Summer gritando.
       Eu e Tereza rimos.
- Então, o que vão vestir amanhã no baile? - pergunta Tereza.
- Hum, sabe que eu ainda nem decidi? - digo.
- Eu vou com um vestido verde-água - responde Summer.
- Eu vou com uma calça de cintura alta com suspensórios e uma blusa - diz Tereza. 
       Nesse momento paramos para olhar os rapazes e a Nikki surfando. 
- Acho que eu vou com um macacão short preto - digo.
- É uma ótima ideia! - diz Tereza - E o cabelo? Vão fazer algo?
- Acho que não. Vou com ele solto - respondo.
       Summer se aproximou da mesinha para pegar mais um de seus bolinhos, depois disse: 
- Ainda não decidi. 
- Hum - continua Tereza - Lembraram de pedir aos rapazes para ir também?
- Claro! - responde Summer - Vai ficar tudo bem Tereza. 
- Eu não recebi nenhuma mensagem hoje - digo.
       Tereza e Summer se entreolharam. 
- Deve ser isso que ela quer - continua Tereza - Quer que pensemos que acabou, quando na verdade, ela está planejando algo pior. 
- Não posso deixar de admitir que estou com medo - diz Summer.
       Penso na possibilidade. Se algo acontecesse no baile, seria diferente da viagem para Paris, pois haveriam as alunas, a diretora, os professores e muitos dos outros convidados. Será que a Lauren arriscaria? Se ela conseguisse capturar alguma de nós... ou os rapazes... Mas ela teria de passar pelos seguranças. Eu não consigo imaginar como ela conseguiu fazer tudo isso em Paris. A pergunta é esquecida por um instante quando meu paladar degusta o doce de leite e a massa do bolinho. 
- Eu não duvido de nada que ela possa fazer - diz Tereza.
- Nem eu - digo. 
       Bem adiante, nos deparamos com a Nikki e o Will voltando da água. Ele estava com o braço envolto nela. Ken e Ryan vinham em seguida. 
- E aí garotas, que horas é o baile amanhã? - pergunta Ryan.
- Ué, a Tereza não te falou? - pergunta Summer.
- Eu praticamente o obriguei a ir, mas não falei a hora - responde Tereza.
- ( risos ) Não precisava me obrigar - diz Ryan. 
- São às oito - respondo. 
- E vamos de que? - pergunta Will.
- Podemos nos dividir em dois carros - sugiro. 
- Isso - continua Tereza - Eu, o Ryan, a Barbie e o Ken podemos ir no carro do Ken. Nikki, Will, Summer e Eric em outro.
- Tudo bem. Podemos usar o meu - diz Eric.
- Beleza! - digo - Estacionem o carro na frente da minha casa para irmos ao mesmo tempo. 
- Isso. Aposto que o baile vai ser ótimo! - diz Summer.
- Hum, Summer, seus bolinhos são muito bons! - elogia Ryan.
- Eu falei que eram! - continua ela - Ah, quero dizer, obrigada. 
       Aos poucos, o céu ia escurecendo. As nuvens, antes coloridas, voltavam ao cinza e o mar trazia uma briza fresca. Ficamos ali apenas mais alguns instantes, depois fomos para casa.

 
 

8. { Capítulo Oito }
       Sábado de manhã, começo a abrir os olhos. Estou deitada de lado, para o meio da cama observando o Ken, que já acordado, estava deitado para cima. Viro para o outro lado para localizar o relógio: 11 horas e 40 minutos. 
- Oh, meu Deus!
       Levanto da cama em um impulso.
- Como posso ter dormido tanto?
       Ele soltou uma gargalhada. Eu corri até o guarda roupa e vesti um short.
- Relaxa. Hoje é sábado - ele disse com imensa satisfação. 
- Exatamente, o sábado do baile! Preciso organizar a casa, e... me arrumar e fazer o almoço! Ai ai.
- ( risos ) Você tem a tarde inteira para isso.
- Não para o almoço. O que você quer comer?
- Sei lá. Não estou com muita fome.
- Não? - franzi a sobrancelha.
- Não.
- Aham, sei. Então vou fazer um almoço só para mim. 
- Eu aceito dividirmos um pote de Nutella.
- O que? - começo a rir. 
- Claro, como se fosse um café da manhã.
- Hum... ta. Ok. Eu vou para a cozinha preparar o seu café da manhã.

 

       Coloquei tudo na mesa, o pão, leite, café, Nutella... peguei um pedaço de mamão que estava na geladeira e o piquei em pedacinhos. Em seguida, sento na mesa para comer. Ken apareceu logo em seguida com o cabelo bagunçado, assim como todas as manhãs. 
- Huum, cheiro de café - disse ele assim que entrou na cozinha - Então pequena, o que você vai usar no baile? - ele perguntou.
       Inclinei a cabeça para o lado e sorri antes de responder:
- Vou com o meu macacão short preto. 
- Eu nunca a vi usando. É novo?
- Bem, faz um tempinho que comprei mas ainda não usei. 
- Hum, deve ficar ótimo em você.
- ( risos ) E você? Vai usar uma camisa social?
- Isso. Acho que... a branca. 
- É, não tem necessidade de usar terno. Uma camisa social é perfeita.
- Muito bem. 

 

       Aproveitei a tarde para fazer tudo o que pretendia. Comecei a me arrumar por volta das seis da tarde. Tomei banho, sequei o cabelo e vesti o roupão para me maquiar. A minha pele estava boa, então usei o blush, lápis e rímel. Olho para a minha caixa de batons, e escolho um vermelho puxado para o rosa. A cor era bem semelhante à polpa da melancia e não chamava muita atenção. Depois da maquiagem estar pronta, me olho no espelho: o meu cabelo estava bem distribuído sobre os ombros e estava levemente ondulado. Através do reflexo do espelho, reparo que Ken aparecera na porta do quarto.
- Ei bonitão! - digo.
       Ele sorriu. Já estava pronto, vestido com a camisa social, a calça preta e o cabelo bem arrumado em topete. 
- Já estou quase pronta, só preciso vestir o macacão. 
- Ok. Eu vou para a sala esperar o pessoal.
       Ainda olhando para ele através do espelho, concordei com a cabeça.  Caminho até o guarda-roupa e procuro através dos cabides para encontrar o macacão preto. Visto-me. Enquanto dou uma última olhada no espelho, ouço vozes na sala, o pessoal chegou. Agacho-me rapidamente para pegar o par de sandálias cinzas e sento na cama para calçá-las. Depois de pronta, caminho até a sala, encontrando a porta entreaberta e todo o pessoal na sala, exceto pela Tereza e o Ryan.
- Oi gente - cumprimentei - Cadê a Tereza e o Ryan?
- A Tereza acabou se atrasando - responde Summer - Por isso eles devem demorar um pouquinho.
- Ah, que susto! Pensei que...
       Sou interrompida por uma voz feminina conhecida.
- Que eu não viria?
       Me deparo com a Tereza e o Ryan parados diante da porta. 
- Tereza! - digo com surpresa. 
- Bem na hora - diz Nikki - São sete e quarenta e seis. Podemos ir?
       Will levantou dizendo:
- Claro, vamos. 
       Foi como o combinado, os dois carros estavam estacionados perto da calçada. Entramos no carro do Ken, eu, ele, a Tereza e o Ryan, os outros foram com o carro do Eric. Assim seguimos para o baile.
       Diante dos portões da Academia Californiana, podíamos ver muitos carros já dentro do pátio, andando sobre a calçada prateada rumo ao estacionamento atrás da escola. Ken diminuiu a velocidade e depois parou diante do portão, os seguranças estavam pedindo pelas identidades. Quando já estávamos contornando o chafariz dentro da escola, avisto duas vagas mais adiante. Estacionamos lá.
       Seguindo para o outro lado da escola, a calçada prateada continua nos guiando, subindo a colina em que está o castelo. Na nossa frente, podíamos ver os outros convidados já chegando ao palácio. Em seguida, olho ao meu redor. À minha esquerda eu podia ver as luzes dos prédios do centro Los Angeles e atrás de mim, a academia, já estávamos à altura do telhado dela. O chão começou a ficar mais plano conforme nos aproximávamos da entrada. Demos os convites aos seguranças e entramos.
       Nos deparamos com um hall de entrada bem grande, parecia um próprio salão de baile por causa do seu tamanho. As paredes tinham uma pintura bege e estavam decoradas com espelhos, algumas mesinhas e poltronas se encontravam ao lado dos mesmos. A iluminação consistia em quatro lustres pendurados em fileira no centro, eles seguiam da porta até a escada que levava até o salão de baile. Nenhuma parede separava os dois lugares, mas o salão ficava um pouco mais elevado que o hall de entrada, havia uma escada e o corrimão acompanhava os degraus até o topo, depois ela seguia para os dois lados, o que criava uma espécie de sacada. As pessoas que param ali, podem ver o hall de entrada logo abaixo. 
       O salão de baile tinha as paredes de cor salmão e um lustre bem maior no centro. O ambiente não estava muito iluminado e gerava um aspecto rosa-alaranjado. Bem adiante, no fundo do salão avistei outra escada, que se subdividia em duas para levar à outras partes do castelo. No canto esquerdo perto da escada, já havia um grupo de violinistas tocando. O salão era tão grande que havia espaço para todas as mesas dos convidados e ainda sobrava um espaço no centro para a dança. 
       Encontramos uma mesa vaga perto daquele corrimão perto do hall, era bem ao lado de uma janela. Coubemos todos nós, eu, Ken, Tereza, Ryan, Summer, Eric, Nikki e Will. 
- Esse lugar é tão lindo! - diz Summer.
- É maravilhoso! - diz Tereza.
       Ajeito-me na cadeira, coloco a bolsa pendurada pela alça nela e paro para observar o salão novamente. Já havia muitos convidados, provavelmente a diretora Alexandra apareceria logo para dar as boas vindas. Um homem de terno preto e gravata borboleta se aproxima da nossa mesa e pergunta:
- Gostariam de beber algo? 
       Ken olhou em torno de nós na mesa e sugeriu:
- Vinho? 
- Pode ser - diz Eric. 
       O homem pegou a pequena caderneta e fez a anotação.
- É pra já senhores. 
       Ele se dirigiu até o meio do salão, subiu a escada e entrou em uma porta à direita. 
- Alguém viu a Lauren? - pergunta Tereza baixinho.
- Não - responde Summer.
       Começo a olhar ao redor, mas também não a encontro. O salão já estava cheio, quase todas as mesas estavam ocupadas, então era praticamente impossível ver ela ou às suas amigas. 
- Ah, ela deve estar por aí - digo.
       O garçom voltou com a bebida, colocou uma de suas mãos embaixo da garrafa e a exibiu na mesa: ''Jordan''.
- Hum, esse é dos bons - diz Will.
       O garçom abriu a garrafa e serviu todas as taças da mesa. 
- Se precisarem de mais alguma coisa, é só pedir - disse o garçom.
- Obrigada - diz Tereza.
       Ken bebeu e depois balançou o líquido vermelho da taça.
- Ótimo vinho - diz ele - E é da Califórnia. 
- Verdade, muito bom - diz Summer. 
       Meu olhar se volta para o meio do salão quando ouço aplausos dos convidados. A diretora estava lá, se preparando para dar seus cumprimentos aos convidados. 
- Boa noite - começa ela - Gostaria de agradecer a presença de todos. É uma grande honra recebê-los aqui no palácio pela primeira vez. O jantar logo será servido, por enquanto, aproveitem a música clássica tocada pela orquestra ao vivo. Depois, o salão ficará livre para que vocês possam dançar. 
       Depois dos aplausos terem terminado, a orquestra continuou tocando suavemente, nem tão alto, nem tão baixo, mas a melodia pairava sobre o salão em bom tom, o suficiente para ser ouvida sobre as vozes dos convidados. 
- Tereza, eu amei o seu visual! - diz Summer.
       Foi então que notei, eu mal tinha percebido o visual delas de tão empolgada que eu estava para observar cada detalhe do castelo. Tereza tinha feito um half bun no cabelo e optou por um make escuro. Ela estava com uma blusa do tipo regata com desenhos em preto e branco e a linda calça de cintura alta com suspensórios.
- De fato Tereza - digo - O seu visual é provavelmente o mais lindo!
- Com certeza - elogia Ryan. 
- Obrigada - agradece Tereza sorrindo para ele. 
       Eles estavam se olhando fixamente, então se beijaram. Lembrei-me de quando a Tereza me contou que o Ryan estava a fim dela, foi há quatro meses. Mas eles se conheciam a bastante tempo. Nós todos nos conhecemos a bastante tempo, só que no início Ryan gostava de mim. É um pouco estranho pensar em não aceitar um homem como ele, afinal, ele é bonito, gentil... Mas havia outro no meu caminho, Ken sempre foi o homem pelo qual quis passar o resto da minha vida. 
       Percebi o barulho no salão diminuir um pouco e os convidados começaram a se sentar. Os garçons estavam vindo empurrando pequenas mesas, era hora do jantar. O mesmo garçom que nos serviu a bebida se aproximou, havia pelo menos sete bandejas na mesa, havia macarrão com molho, lasanha de brócolis, purê de batata, pedaços de peito de frango assados no espeto, arroz branco, molho quatro queijos e algumas opções de salada. O garçom pegou e colocou tudo no centro da nossa mesa e antes de sair disse:
- Se precisarem de mais alguma coisa, é só chamar. 
       Olhei para toda comida na mesa, oh, eu preciso experimentar tudo!
- Parece uma delícia - diz Nikki. 
- Se a comida daqui for parecida com a da academia, ficarei satisfeita - diz Summer.
       Peguei uma colher e começo a me servir enquanto acrescento:
- Deve ser muito melhor, olhe só pra isso.
       O sabor era incrível, de todo prato que comi. Devo dizer o mesmo da sobremesa, foi servido tiramisu de limão! Depois da janta, todos os pratos foram retirados das messa e músicas mais agitadas começaram a tocar. Os convidados quase que imediatamente se dirigiram ao meio do salão para dançar. Nós ainda estávamos na mesa, mas as garotas começaram a balançar a cabeça no ritmo da música. 
- Vem comigo - virei a cabeça para o lado e vi o Ken puxando a minha mão.
- Vamos dançar? - pergunto.
- Não, quero te mostrar uma coisa - ele disse enquanto me guiava para o hall de entrada.
- Barbie, aonde você vai? - pergunta Nikki.
- Ham... nós já voltamos - gritei enquanto descíamos os degraus para o hall. 
       Na parede, perto da escada havia uma porta, eu não tinha reparado antes. Passamos por ali. Era um longo corredor, escuro, mas algumas janelas estavam abertas e proporcionavam feixes de luz que atravessavam o corredor. Mas adiante, havia uma escada, ela tinha o formato de caracol e era bem pequena se comparada às do salão de baile. Subimos a escada e no fim dela havia uma porta, Ken puxou a maçaneta e a abriu. Era uma sacada enorme e tinha uma bela vista das colinas em torno da escola e algumas partes da cidade.
- Nossa - digo enquanto caminho devagar. 
       Ainda observando o lugar, apoio as minhas mãos na sacada feita de mármore. A parte de cima era bem larga e plana, o que possibilitava debruçar os braços sobre ela. 
- O que você acha? - pergunta ele.
- Como você sabia desse lugar? - pergunto sorrindo. 
- Observei a torre quando chegamos. Assim que entrei, vi a porta ao lado do hall, então pensei em levar você aqui. 
- Seu doido, a gente nem poderia estar aqui - começo a rir.
       Voltei a olhar para a paisagem. Tudo estava bem calmo, nós mal ouvíamos a música do baile.  
- É muito lindo - digo - Eu nunca tinha reparado naquelas colinas. Acho que é porque só estivemos perto da academia e o castelo cobria tudo.
- Acredito que sim - diz ele - O que eu mais gosto é o vale. Deve ficar muito bonito num final de tarde, o sol tocando apenas o topo das colinas.
- Oh... sim. Devíamos pedir à diretora Privet, tenho certeza que ela nos deixaria fazer um piquenique aqui num final de tarde. 
- ( risos ) Um piquenique em cima de mármore? 
- É, por que não? O importante é poder apreciar essa vista.
       Ken veio para mais perto de mim, se colocando na minha frente. Fiquei de frente para ele e a paisagem. Ele colocou as suas mãos no meu rosto acariciando a mandíbula.
- Às vezes, eu gostaria que momentos assim nunca acabassem - diz ele.
- Posso dizer o mesmo.
       Eu continuaria olhando pra ele, mas algo no pátio me chamou atenção. Havia alguém ali, ressurgindo do escuro. Conforme a luz das janelas do castelo iam revelando o vestido vermelho, eu já imaginava quem poderia ser. Lauren. Ela parou ali e me avistou na sacada, mantendo o olhar fixo em nós dois. Em seguida, ela se virou e foi para o outro lado do castelo. Um turbilhão de possibilidades invadiu a minha mente, fiquei confusa, eu não fazia ideia do que ela podia ter feito. Será que ela tinha capturado alguém das garotas? Precisava segui-la.
- O que foi - Ken perguntou e olhou para baixo da sacada percebendo a minha distração. 
- A... ah, desculpe, eu preciso ir!
       Passei pela porta e desci as escadas correndo. Assim que saí do corredor escuro, parei na porta diante do hall e olhei a minha volta para descobrir se as garotas estavam lá, mas só encontrei convidados desconhecidos. Voltei a correr e subi as escadas rumo ao salão. A nossa mesa estava vazia, então volto o olhar para o meio do salão.
- Lucy! - grito.
       Assim que ela me viu, correu até mim.
- Ei, como está?
- Lucy, por favor, cadê as garotas? 
- Pensei que elas estivessem com você.
- Mas você as viu?
- Elas e os rapazes dançaram aqui por um tempo, depois saíram. Desculpe, eu não sei lhe dizer. 
- E a Raquelle e a Midge?
- Estão na nossa mesa, lá no fundo - ela disse apontando. 
       Consegui visualizar as duas lá, elas também me viram e abanaram.
- Você está bem? Parece meio tensa - diz Lucy.
- Não, não! Eu estou bem. Só que... eu preciso ir. 
       
 

       Fora do castelo, o vento estava frio, o que fazia eu me sentir mais mal ainda. Eu poderia ter contado algo à Lucy ou à Midge e a Raquelle, mas eu com certeza não gostaria de metê-las nisso também. De qualquer modo, Lucy contaria à elas sobre meu comportamento estranho. Não era a minha principal preocupação agora, eu precisava de coragem o suficiente para atravessar o pátio e chegar onde a Lauren estava. Caminhava devagar, sentia medo, deixando o frio se apoderar de mim. Assim que estava chegando no outro lado, ouvi vozes. Eu senti tanto alívio! Um fardo enorme foi tirado das minhas costas. Todas elas se viraram assim que apareci, todas as garotas estavam lá. 
- Barbie, onde você estava? - pergunta Tereza.
- Eu estava... deixe pra lá. Por que saíram do salão? - pergunto.
- Estávamos procurando por você, os rapazes foram até o estacionamento para procurar - diz Nikki.
- Tudo bem, eu estou bem! - digo.
- Cadê... o Ken? - pergunta Summer. 
       Meu estômago gelou. Antes que eu pudesse formular uma resposta, visualizei a mesma garota de vestido vermelho aparecer bem na minha frente. A luz da lua começou a revelar o seu rosto conforme ela andava para perto de nós. Ficamos paralisadas.
- Eu sabia que iriam me seguir - diz Lauren - Vocês adoram problemas, não é?
- Fala sério? O que você quer? - pergunta Nikki.
- Não tenho certeza - continua ela - Por que você veio Barbie?
       Após a pergunta, Lauren inclinou a cabeça para o lado e sorriu. Aquele mesmo sorriso malicioso da noite de Paris. 
- Pensei que... Que tivesse feito algo com as garotas - digo.
- Hum - continua ela - Mas você as deixou. Sim, você quis ir junto com o seu amado, afinal, ele é a sua vida. Estaria disposta a fazer qualquer coisa por ele.
       Por um instante, eu tive de desviar o olhar e piscar para conter as lágrimas. Mas ela continuava, sem dó de quem estivesse ouvindo, a sua voz soava como um prazer. A cada palavra dita por ela, o meu desespero aumentava e se transformava em raiva. O frio arrepiou a minha pele e me fez tremer. Balancei a cabeça na tentativa de ignorá-la.
- Seria uma pena se... alguém partisse o coração de um dos dois. Sabe, eu adoraria ouvi-lo desesperado... gritando o seu nome.
- Não! - gritei.
- Eu adoraria ver o sangue dele espalhado pelo chão.
       Antes que eu pudesse me dar conta, eu já estava em cima dela, agarrei o seu pescoço com as duas mãos e a pressionei contra a parede. Mas ela não pareceu atingida com isso, continuou com o seu olhar sarcástico. Com uma força inexplicável, ela retirou as minhas mãos do pescoço dela e me jogou no chão. Depois de uma breve recuperação do fôlego, tornei a olhar para ela com os dentes cerrados. Lauren começou a se virar lentamente olhando para mim caída no chão e voltou para a parte da frente do castelo. Me levantei rapidamente.
- Ah, vocês encontraram a Barbie - disse Eric. 
       Os rapazes tinham acabado de voltar do estacionamento. Ryan olhou para mim e percebeu o meu olhar desesperado. 
- O que aconteceu? - perguntou ele.
- Não temos tempo pra isso - diz Nikki - Temos de achar o Ken.

 
 

9. { Capítulo Nove }
       Entramos no hall de entrada e comecei a sentir medo novamente. Com profundo arrependimento, percebi que não devia tê-lo deixado. O que eu estava pensando?
- Por onde começamos? - pergunta Will. 
       Olho para a porta ao lado hall, aquela em que eu e ele passamos para ir até a sacada. Se Lauren estivesse mesmo no palácio, aquele seria o único lugar pelo qual ela poderia passar, pois, as duas portas do salão só permitem entrada de funcionários e obviamente, a diretora Privet. 
- Por ali - digo apontando para a porta do hall.
       Fui na frente e todos os outros me seguiram. Com certeza Ken não estaria mais na sacada, Lauren poderia ser vista por qualquer pessoa lá fora, mas no meio daquele corredor escuro, a única ideia que veio em mente foi procurar outra porta ali mesmo.
- Pessoal - digo - Toquem nas paredes e tentem encontrar uma porta. É o único lugar pelo qual a Lauren poderia passar. 
       Coloquei as mãos e deslizei sobre a parede, ela continuava com a mesma textura, não havia um quadro ou objeto sequer. 
- Será que não há luzes aqui? - pergunta Tereza.
- Acho que não - diz Ryan.
- Aqui gente! - diz Summer - Eu encontrei uma maçaneta.
- Oh, graças a Deus! - digo.
       Ela abriu a porta e nos deparamos com um outro corredor, dessa vez, mais largo e um pouco mais iluminado, graças a um teto de vidro. Essa parte do castelo ficava atrás e só possuía um andar, o que explica o teto de vidro. Apesar disso, as paredes eram bem altas. 
       Meus passos porta adentro são calmos e cuidadosos. Eu estava atenta a qualquer ruído que pudesse nos dizer onde Ken estava. Dessa vez havia muitos quartos, portas e mais portas dos dois lados.
- Façam silêncio - eu disse cochichando. 
       Andamos alguns metros, até que senti alguém cutucar as minhas costas. Me virei e vi Ryan. Sem dizer nada, ele apontou o dedo indicador para uma das portas. Assenti com a cabeça. Ele colocou a mão devagar em cima da maçaneta e a abriu em um instante. Me surpreendi, a porta não estava trancada. Lauren não devia ter nenhuma chave para trancá-la. Lá estava o Ken com as mãos amarradas nas costas, uma faixa na boca e Lauren atrás dele segurando uma faca próxima do seu pescoço. As suas amigas, Evelyn e Courtney também estavam lá, elas vieram atrás de nós e bloquearam a porta. 
- Pra trás! - diz Lauren - Ou mato ele!
       Eric deu dois passos calmos na direção dela e fez um sinal com as duas mãos.
- Lauren... fique calma - diz ele.
- Você não vai querer fazer isso - diz Will - Vai se dar mal.
       Lauren inclinou a cabeça para trás e riu.
- E você acha que eu tenho medo? 
       Ela permanecia com a faca no pescoço dele, só que desta vez, já estava bem apertada à pele. 
- Só vai fazer um pouquinho de sujeira - diz ela. 
       O movimento brusco dela com a faca fez com que Ryan se aproximasse deles. 
- Eu estou avisando! - ameaçou Lauren novamente.
- Lauren, por favor - diz Ryan - Larga essa faca. 
       Após me deparar com todos os fatos assustadores dessa noite, a viagem me veio em mente como uma lembrança tão recente... Aliás, parecia estar vivendo aquilo tudo de novo. Eu olhava bem no fundo dos olhos do Ken, como se eu quisesse dizer ''tudo bem, estou aqui''. Lauren estava puxando o seu pescoço pra trás, fazendo ele ficar com coluna curvada. Aquela força... de onde vinha tanta força? Eu sempre pensei que ela fosse apenas uma garota da academia que tivesse enlouquecido, agora, eu tinha certeza que Lauren apresentava um perfil bem mais complexo que isso. 
       Eu não fazia ideia o que seria o resultado da noite de hoje, só sei que queríamos voltar para casa em segurança. Algo no olhar dos rapazes me fez sentir um pouco mais aliviada. Eles não olharam exatamente nos meus olhos, mas eu tinha certeza que estavam planejando algo entre si. Mergulhei em um mar de possibilidades, será que eu poderia fazer algo para ajudar? Voltei à tona percebendo uma agitação, Ken fez um movimento brusco para trás, derrubando a Lauren. Os rapazes foram para a porta, jogando Evelyn e Courtney no chão. Levei um susto, tudo aconteceu rapidamente e foi como se o meu instinto tivesse dado um alarme, é hora de fugir. Ken passou ao meu lado e saímos juntos. Ainda correndo, tirei a faixa da boca dele. Começo a lacrimejar quando percebo que conseguimos salvá-lo. 
       Não dava para voltar de onde viemos, pois Lauren, Evelyn e Courtney já estavam atrás de nós. Seguimos o corredor e entramos em um quarto com a porta já aberta. 
- Tem chave! - diz Tereza.
       Me virei quando ouvi ela falar e a visualizei trancando a porta. Logo em seguida, ouvimos alguém usar de muito força para tentar arrombá-la. 
- Rápido - diz Nikki - Vamos sair daqui. 
       Olho ao meu redor. É um grande quarto, com cama, armários, lareira e muitas janelas, mas elas estavam trancadas. Antes de perguntar à todos o que iríamos fazer, vi Ryan chegando para perto do vidro com uma barra de ferro, provavelmente, ela estava próxima à lareira. Ele quebrou o vidro, fazendo assoar a barulho de centenas de lascas de vidro caindo no chão. Ken se aproximou da janela, virou de costas e levou o seu pulso sobre o resto de vidro que ficou na janela, cortando as cordas que prendiam as suas mãos. 
       Os rapazes pularam primeiro e ajudaram as garotas. Eu fui a última, coloquei os pés cuidadosamente sobre a janela e vi Ken estender os braços para me pegar. Senti as suas mãos nas minhas costelas até ele me colocar no chão. Saímos correndo dali.
       
 

       Às duas da manhã, nós todos estávamos na sala da minha casa. 
- Nossa, agora eu to acreditando de verdade nisso - diz Ryan - Quero dizer, eu não achava que era tão perigoso. 
- Bom... Ainda bem que estávamos todos juntos - diz Summer.
- Eu nunca teria me perdoado se algo tivesse acontecido com o Ken - digo.
- Mas a culpa não seria sua - diz Tereza.
- Eu o deixei lá na sacada sozinho - continuo - Nunca devia ter feito isso.
- Ela não ia me matar - diz Ken.
- O que? - pergunto. 
- Ela só está fazendo isso para provocar você, pra causar medo.
- Eu não teria certeza - diz Nikki - A Lauren já atacou a Barbie e foi pra valer. 
- Oh, chega de falar disso - digo - Precisamos dormir pra tranquilizar um pouco a mente. 
- Isso - diz Summer - Eric, vamos para casa. 
       Todos o pessoal levantou e começou a andar rumo à porta de saída. 
- Ah, Barbie - diz Nikki - Vamos ensaiar a música do balé amanhã?
- Ta, tudo bem - digo - Podem vir durante a tarde. 
- Ok, tchau - diz ela.
- Tchau - respondo. 
  
 

       Após eu e Ken tomarmos outro banho, deitamos na cama. Ficamos de frente um para o outro. Eu estava tão grata e tão aliviada de poder deitar novamente ao seu lado.
- Isso é tudo que eu queria naquele momento - digo - Ter certeza que ficaríamos juntos.
       Ele sorriu, se aproximou colocando a sua mão na minha cintura e beijou a minha testa.
- Eu prometo que nada de ruim vai acontecer à nós dois. 
       Levantei a cabeça deixando a minha bochecha deslizar no seu queixo e o beijei. Tudo estava certo agora. Começo a enchê-lo de beijos, Ken retribui colocando a mão no meu rosto. Ergo e perna e coloco a coxa sobre o quadril dele fazendo-o deitar de costas. Fico sobre ele e continuo a beijá-lo. A sensação era ótima, eu sentia o calor das suas mãos me acariciando, aquele simples toque era totalmente o oposto do frio que senti anteriormente. Paro para observá-lo e deslizo a minha mão sobre a dele, entrelaçando os nossos dedos. 
- Eu te amo - digo.
       Ken abriu um pouco a boca mas não respondeu nada. Permaneceu olhando para mim, mas com um olhar completamente vazio. A sua respiração ficou muito lenta e eu não sabia nem o que pensar.
- Ken? - pergunto. 
       Ele continuou sem reação. Corro com os olhos pelo seu corpo à procura de uma resposta e levo um susto. Eu tive de piscar e olhar novamente para ter certeza que vi uma faca empunhada no seu peito. 
- Não, não, não! - digo com um nó persistente na garganta. 
       Minha mão esquerda corre rapidamente para o seu rosto, tocando-o, enquanto a minha mão direita permanece entrelaçada à dele, mas os seus dedos começaram a se soltar dos meus devagar, até a sua mão cair no colchão. 
- Ken! - grito - Não, por favor!
       Como... Como isso tinha acontecido? Olho para o seu peito novamente, o sangue estava escorrendo da pele para os lençóis. As lágrimas já saíam enquanto eu suplicava que ele voltasse a apresentar qualquer reação. Eu não sabia o que fazer, tocava o corte pensando em tirar a faca dali e depois pressionava dois dedos sobre a sua artéria carótida para sentir pulsação, mas não encontrava nada. 
- Não faça isso comigo... por favor.
       Mas o seu olhar estava paralisado, os seus olhos continuavam me assustando, olhando para o vazio. Uma terrível voz dentro de mim já me avisava o que tinha acontecido, mas eu não queria ouvir, eu não conseguia admitir. Tapei a boca e fechei os olhos por um tempo.
- Oh, meu Deus. Isso não pode ser verdade.
       As lágrimas começaram a tapar a minha visão, pois eu insistia em olhar para baixo. Cada vez que eu piscava, as lágrimas caíam sobre ele. Estava me sentindo tão mal... Qualquer choro ou grito não poderia abafar a dor. O meu peito doía e parecia que eu estava afundando e sufocando... 
       Vozes começaram a chamar por mim, eu quis ignorá-las, mas pareciam estar invadindo a minha mente, criando uma bagunça em mim mesma. Eu fechei os olhos e respirei fundo para não perder o fôlego. Deito de lado no colchão e tapo os ouvidos com as mãos. Era inútil. Uma voz masculina se destacava e chamava por mim. Cerro os dentes, sinto o meu corpo chacoalhar e como um susto, em uma fração de segundo eu voltei à tona assim como alguém emerge de dentro da água. Meu fôlego voltou, embora eu ainda estivesse assustada e me deparei deitada na cama com o Ken bem diante de mim, segurando firme os meus braços e olhando bem para os meus olhos. Era só um pesadelo. Um terrível pesadelo.
- Ei, tudo bem - diz Ken.
       Avancei para perto dele e o abracei.
- Oh, meu Deus! Eu sonhei, eu sonhei! - digo tentando segurar as lágrimas.
- Sonhou o que? - pergunta ele.
- Que eu perdi você.
       Lágrimas escorreram pelo meu rosto. 
- Tudo bem - continua ele - Foi só um pesadelo.

 

- Só café hoje? - pergunta Ken.
- Aham - respondo.
       Já estávamos sentados na mesa tomando o café. Novamente, tomamos a iniciativa de ficarmos sem almoço, já que acordamos tarde. Bem, se não fosse o Ken, eu estaria a mais tempo na cama. Pelo que parecia, o pesadelo não pretendia acabar logo, e eu não gosto de pensar no que poderia acontecer em seguida. Na verdade, eu não gosto nem de lembrar do meu estado após acordar.
       Ken puxou devagar o vidro de açúcar, e suspirou antes de dizer:
- Vou precisar de muito café durante essa semana.
- Vai começar a pintar aquele quadro grande?
       Ele concordou com a cabeça, depois disse:
- Você tem que ver o tamanho - Ken fez uma pausa para beber e voltou a falar - Terei de levá-lo por cima do carro.
- Nossa.
- Vai dar mais ou menos a metade da nossa parede da sala. 
- Hum... então, vai ficar mais tempo em casa? 
- Exatamente. Vou suspender o treino de basquete por enquanto.
- Ta bem - sorri. 
       Lembrei do que tinha combinado com as garotas e me virei para ver o relógio próximo da pia: já eram quase duas horas. As garotas iriam chegar a qualquer momento.
- Ken, preciso me preparar para o ensaio que faremos.
- É, eu sei. 
- Elas já devem estar chegando. 
       Levanto da cadeira e levo minha xícara até a pia.
- Você pode guardar as outras coisas pra mim? - pergunto.
- Claro, pode deixar.
- Obrigada. 
       Fui até o quarto e mexi a bolsa para encontrar a roupa de balé. Eu havia deixado lá desde sexta-feira. Peguei a malha preta, a meia calça e as sapatilhas. Em frente ao espelho, coloco mais grampos no cabelo para deixar o coque mais firme e começo a me vestir. Em seguida, fui até a sala e comecei com o alongamento. Eu já havia feito pelo menos um terço dos exercícios quando ouvi alguém bater à porta e corri para atender. 
- Oi meninas - digo.
- Oi Barbie - diz Tereza - Nossa, já está pronta?
- Quase - respondo - Eu estava alongando. 
- Ah, nós nem nos vestimos - diz Nikki - Sabe como é, não dá pra atravessar a rua com malha de balé.
- Dá sim - diz Summer.
       Summer entrou e abriu o casaco cinza, ela já estava vestida com a malha e a meia calça.
- Tanam! - diz ela. 
- Nossa, por que a gente não pensou nisso? - pergunta Nikki.
- ( risos ) Ah, deixem pra lá - digo - Vamos, entrem.
- Oi Ken - disse Tereza enquanto passávamos ao lado da cozinha.
       Ele sorriu e devolveu o cumprimento movendo a cabeça para baixo. Continuamos a andar para a sala.
- Então, hoje ele é quem cuida da louça? - pergunta Nikki.
- É, eu pedi esse favorzinho - respondo.

 
       
       Após estarmos todas prontas, começamos a sugerir os passos para a continuação da coreografia. 
- Muito bem - digo - Falta o final do primeiro refrão, e então?
- Podemos fazer pirouettes en piqué, já que aquele é um momento mais rápido na música - sugere Summer.
- Isso - digo - Bem no momento em que ela diz ''Say you'll remember, say you remember, baby oh, I will love you till the end of time''.
- E quantos giros isso dá? - pergunta Tereza.
- Hum... deixe eu ver - digo.
       Na minha cabeça, começo a lembrar da música enquanto executo os giros.
- São apenas cinco - respondo - assim que o refrão acabar, acho que devemos colocar os braços para os lados e parar na posição inicial do balé, um pé atrás do outro. 
- Gostei - diz Tereza.
- Depois do primeiro refrão, podemos utilizar a mesma primeira parte de antes - sugere Nikki.
- Também acho - digo - Há muito para ser criado ainda. 
       Assim decidimos que a coreografia até o final do segundo refrão seria a mesma da primeira parte, só que faríamos envolvendo mais entusiasmo. Após colocar a música em um aparelho de som, ensaiamos toda a coreografia até o segundo refrão pelo menos quatro vezes. Eu estava entusiasmada, pois havia ficado ótimo. Deixei o CD continuar a tocar em volume baixo enquanto sentávamos no sofá para descansar. Retiro as sapatilhas e as coloco de lado para poder cruzar as pernas. Ken apareceu ao meu lado com dois copos de Starbucks, morango pra mim, baunilha para ele. 
- Vão querer de quê? - pergunto.
- Chocolate - diz Tereza. 
- Pode ser um de morango - diz Summer.
- Baunilha - diz Nikki. 
       Ken foi até a cozinha para pegar os outros copos de sorvete.
- O que vai ser de nós amanhã? - pergunta Summer.
- Ué, mole - diz Nikki - Não vai acontecer nada. 
- Até parece - diz Tereza - Eu estou morrendo de medo.
       Eu não sabia o que dizer. Queria tranquilizá-las, mas eu estava mais assustada que elas. Por isso, eu observava em silêncio os seus rostos enquanto falavam.
- Como pode dizer isso Nikki? - pergunta Summer.
- Vejam bem - continua Nikki - Todas as vezes que ela nos atacou se seguiram de dias em que nada de ruim acontecia. É por isso que não estou preocupada.
- Ta, eu entendi - diz Tereza - Mas eu também observei que as coisas estão piorando. Ela não vai parar. 
- Essa não é uma boa conversa para uma tarde de domingo - diz Ken enquanto retorna com os sorvetes.
- Não faz sentido você dizer isso - digo - Eu quase perdi você ontem e agora está insinuando que devemos encerrar o assunto?
- Não é bem isso - responde ele enquanto senta no sofá - Só não quero que se preocupem demais.
- Então, o que sugere? - pergunta Nikki.
- Que fiquem juntas e atentas - responde ele - Não há dica melhor. 

 
 

10. { Capítulo Dez }
       Na tarde de segunda feira, eu e as garotas chegamos ao portão da academia bem mais assustadas que os outros dias, e o que era pior? Saber que não podíamos contar à ninguém. Certamente, a diretora Privet não iria tolerar qualquer indício de brigas entre as alunas. Lauren jamais admitiria e do modo como ela consegue agir naturalmente e esconder tudo o que planeja, nós não tínhamos a menor chance. 
       Chegamos ao nosso quarto e deixamos os pertences. Até agora, eu não havia visto nem ela, nem Evelyn e nem Courtney, os que me deixava aliviada. Pelo menos por enquanto.
- Acho que devíamos nos aprontar agora para o balé - diz Nikki - Provavelmente, vamos usar a tarde toda para ensaiar. 
- Acho que sim - digo - Mas estou sem inspiração hoje. 
- Nem me fale - diz Tereza.
- Vamos ensaiar apenas o que já criamos - diz Summer.
- Isso - digo.        
       Caminhamos até a sala de balé e encontramos todas as alunas aglomeradas em um lado da sala, olhando para um cartaz na parede. 
- O que é isso? - pergunto.
- Por favor, que não sejam problemas - diz Nikki.
- Tem muita gente - diz Tereza - Vamos até a sala deixar as bolsas e depois voltamos para ver.
       Concordei com a cabeça. 
       A pequena sala estava vazia. Escolhemos uma mesa e ficamos ali. Antes mesmo de eu colocar a bolsa na mesa, observei uma das portas do vestiário se abrir, era a Midge. Ela notou a nossa presença imediatamente. 
- Oi meninas - diz ela. 
- Oi Midge - respondo - Você sabe o que está escrito no cartaz?
- Ah, sim - Fui uma das primeiras alunas a entrar. É apenas um aviso do novo horário. Até que chegue o dia da apresentação, teremos quatro períodos de balé e dois de alguma outra coisa. Hoje temos artes.
- Ah - respondo - Pensávamos que era algum problema. 
- Bom... - continua ela - Na verdade, há problemas. 
       Troquei olhares com as garotas. 
- O que houve? - pergunto.
- Alguém quebrou uma janela de vidro do castelo na noite do baile. E a Privet está furiosa. 
       Meu estômago gelou. Será que haviam câmeras que haviam nos flagrado? Isso nunca havia passado pela minha cabeça. Fiquei sem reação assim como as garotas.
- Então eu imagino que a Privet entrará aqui e nos dará avisos a respeito disso - diz Nikki.
- É, acho que sim - diz Midge - Mas ninguém sabe onde ela está. Já devia ter chegado. 
       ''Por favor, por favor, Privet, esteja bem'' eu disse à mim mesma. Tentei fingir ao máximo que eu não sabia de nada sobre a noite do baile. Então concordei mexendo a cabeça devagar. 
       Uma voz alta ecoou pela sala de balé chamando pelas alunas. Uma voz feminina e familiar, aquela que eu esperava ouvir para não pensar que algo de ruim havia acontecido à ela por nossa culpa.
- Ai, ai! Ela já chegou - diz Summer. 
       Saímos correndo da sala e encontramos todas as alunas de frente para a diretora, que não ficou muito feliz de nos ver atrasadas, mas não disse nada. Nos colocamos perto das outras alunas em silêncio e ela voltou a falar. 
- Boa tarde. Como já devem ter visto, o novo horário para o balé já foi divulgado. Agora, você terão tempo suficiente para ensaiar a coreografia a tempo da apresentação que será sexta-feira que vem. 
       Ela fez uma pausa, parecendo fitar os olhos em cada uma das alunas antes de voltar a falar.
- Bem... - continuou ela - A festa de sábado foi maravilhosa. Exigiu muito de mim e os professores, mas acabou sendo proveitosa. Exceto, é claro, por alguma aluna ou convidado desconhecido que quebrou uma das janelas do palácio. Sim, eu não havia ligado as câmeras de segurança, portanto, nós nunca saberemos quem o fez, a menos que se denuncie. Pouco provável, não é? Então, eu espero que coisas assim não se repitam, por favor. 
       Fiquei aliviada assim que ela terminou a frase, principalmente porque ela estava bem calma.
- Acredito que isso seja tudo que eu tinha para avisar. Continuem com os ensaios. 

 

       Após todas as alunas terem se espalhado em torno da sala de balé, meus olhos começam a procurar pela Lauren. Depois de um tempo sem conseguir visualizá-la, suponho que ela tenha faltado ao dia de hoje. 
       Ensaiamos tudo o que já havíamos criado até as três horas, quando paramos para o lanche. Decidimos não continuar, afinal, a professora Marie nos liberou desde que ficássemos na sala de balé e conseguíssemos criar a coreografia até semana que vem. Só havia mais um período antes da aula de artes, então aproveitamos para nos trocar e descansar. 

 

       Durante a aula de artes fiquei com a mente mais relaxada, já que ficaríamos sentadas a maior parte do tempo. Me debrucei sobre a classe e senti as pálpebras ficarem pesadas. Não entendia o fato de eu estar cansada assim, talvez não tinha descansado direito na noite de ontem. Ou foi a noite do baile, que fomos dormir tarde e ainda por cima tive o pesadelo que me fez acordar antes. Levantei a cabeça rapidamente assim que ouvi a professora Lorena começar a falar. Após algumas frases breves, pelas quais não prestei muita atenção, ela nos deixou um cartaz com um cesto de flores desenhado. A nossa tarefa era desenhá-lo da forma mais parecida possível. 
       Olho para o lado e vejo a Tereza demonstrando estar completamente confiante para iniciar seus habilidosos esboços. Isso parece ser algo que a fortalece. Eu já tinha notado que, ultimamente, a sua personalidade estava sendo afetada pelos perigos que a Lauren estava nos expondo.
- Ei, Tereza - digo à ela - Uma ajudinha aqui?
- Ah, Barbie - diz Tereza - Vamos, deixe o lápis deslizar sobre o papel.
       Não respondi nada e ao invés de voltar ao meu desenho, continuei a observá-la. O seu traçado era leve e rápido, parecia ser tão fácil para ela. Conforme as flores iam surgindo, as bordas das pétalas escureciam enquanto o centro delas permanecia mais claro. Voltei ao meu desenho e tentei me concentrar para iniciar o traçado. 

 

       Assim que abri a porta de casa, ouvi uma música sendo tocada no piano. No início eu não sabia dizer qual era, pois estava bem lenta, as notas pareciam ser escolhidas. Tranquei a porta, larguei as chaves no balcão e comecei a caminhar até a sala. Percebi o quadro que o Ken pintaria já encostado na parede antes mesmo de eu chegar na sala.
- Nossa - digo.
       Após caminhar até o meio da sala, eu pude ver melhor o material. Era realmente grande e sim, pegava praticamente toda a parede da sala.
- O que você acha? - pergunta Ken.
- Acho que vai dar muito trabalho - respondo.
- Bom... tenho seis semanas. Acho que vou começar o esboço amanhã.
- Hum. Se precisar de ajuda é só pedir. 
- Tudo bem. 
       Larguei a mochila no sofá e caminhei para mais perto de piano.
- O que você estava tocando? - pergunto. 
- Brooklyn Baby. 
- Ah, é que você parecia estar escolhendo as notas. 
- Eu as esqueci, por isso ficava pulando de uma pra outra sem ao menos saber se acertaria.
- Oh ( risos ). Eu sei as notas.
       Fui até a mochila e peguei um bloquinho de papel e uma caneta. Sentei ao lado dele no banco do piano.
- Veja, a introdução repete dó e mi menor, depois se segue de sol, mi menor, dó, sol, e fá. O refrão começa com dó, sol, fá, dó, fá, dó, fá e mi menor. Essa parte, duas vezes. 
       Escutei as notas serem reproduzidas aos poucos depois que coloquei o caderninho em cima do piano.
- Por que você não toca? - pergunta ele.
- Ah, não - respondo - Essa música eu toco só o violão, isso se você me acompanhar com o piano. 
       Ele sorriu e respondeu:
-Tudo bem.
       Após retornar do quarto com o violão em mãos, sentei no sofá e observei o Ken já esperando com as mãos postas sobre as teclas das devidas notas. Fiz a nota dó no violão e deixei o dedo deslizar sobre as seis cordas de modo suave e mudei a nota para mi menor. Assim que fiz a nota sol, comecei a cantar a primeira parte da música.
- They say I'm too young to love you, I don't know what I need...
       Enquanto as palavras eram ditas por mim, Ken acompanhava as notas no piano, no início, soavam tão calmas e aconchegantes quanto o meu toque no violão, estava sendo um ótimo momento para nós dois. Após a música terminar, deixei o violão na mesma posição e as minhas mãos sobrepostas na lateral, apoiando a cabeça junto delas. 
- Nós temos que fazer mais isso - digo.
- Com certeza, eu adoro a sua voz - diz Ken.
- E eu adoro quando você toca piano - sorrio. 
       Ele sorriu também e se levantou, deixando o bloquinho de papel com as notas em cima do piano. 
- Vem, vamos dormir, amanhã tenho que começar o esboço cedo - diz ele. 
-  Tudo bem.
       Deixei o violão sobre o sofá e caminhei com ele até o quarto. 

 

       Na tarde seguinte, Ken disse que nos levaria até a escola, já que ele estava em casa. Mais tarde, ele começaria com o esboço, eu já tinha providenciado os jornais e todo o material dele já estava colocado sobre uma mesinha na sala.
- Obrigada pela carona Ken - disse Tereza assim que saiu do carro. 
- De nada - respondeu ele - Querem que eu venha buscá-las?
- Não, não precisa - digo - Faça os seus esboços, aproveite o tempo. Nós viremos sozinhas. 
- Tudo bem, tchau - diz ele.
- Tchau - respondo. 
       Caminhando sobre a calçada prateada, lembro que teríamos de ensaiar mais uma parte da coreografia.
- Ah, vocês tem ideias para coreografar a parte antes do último refrão? - pergunto.
       Summer balançou a cabeça negativamente. 
- Mas vamos pensar em algo - diz Nikki - Aquele é um momento mais rápido na música então acho que poderíamos incluir saltos.
- É uma boa ideia - digo. 
       Entramos na sala e nos arrumamos rapidamente, a maioria das alunas ainda estavam dispersadas, mas nós começamos o ensaio logo. Após um momento pensando em passos para a música, me veio em mente a coda do cisne negro e pensei que poderíamos usar os fouettés.
- Ham... o que acham se usarmos fouettés? - pergunto.
- Sua doida - diz Tereza - Eu ainda não aprendi a fazer esse passo. 
- Eu também não Barbie, é muito difícil - diz Nikki. 
- Ta, então, vocês executam pirouettes e eu fico com os fouettés - digo.
- E acha que consegue? - pergunta Nikki.
- Bom, eu estou meio enferrujada, mas vamos ver.
       Eu não executava fouettés desde que estava no ensino médio, mas de qualquer modo, eu estava treinando balé e as pirouettes, que são um passo bem parecido. Fiz a posição inicial e flexionei um pouco os dois joelhos. Comecei o passo deixando o pé esquerdo na ponta e flexionando a perna direita, deixando a ponta da sapatilha tocar a perna que estava na ponta, como se eu estivesse fazendo uma pirouette. O meu impulso foi suficiente para girar duas vezes, depois eu precisei lançar a perna direita para fora e pegar o impulso de girar outra vez. Assim repeti algumas vezes e parei. 
- Como me saí? - pergunto.
- Foi ótimo Barbie! - diz Summer.
- Sério? - digo surpresa - Pensei que nem conseguiria. 
- E quantos giros desses você vai dar na música? - pergunta Nikki.
- Não sei - respondo - Mas não vou girar o tempo todo nessa parte da música. Eu começarei na segunda parte dela. 
- Ta, e nós podemos começar as pirouettes ao mesmo tempo de você - diz Tereza.
- É - digo - Mas ainda temos de criar a primeira parte.
- E se começarmos correndo e saltamos? - sugere Summer - Mas um salto pequeno, claro.
       Logo após falar, ela deu uns seis passos correndo e um pequeno salto, separando um pouco uma perna da outra, deixando o braço direito para cima e o esquerdo para o lado. 
- Fica bom desse jeito - digo - E vai combinar com a música.
- Logo depois que voltamos ao chão, abaixamos os braços e os deixamos curvados para frente, girando ao mesmo tempo - diz Summer.
       Ficamos em fileira e fizemos tudo ouvindo a música na nossa mente, os passos se encaixavam perfeitamente, então encerramos essa parte assim. Depois ensaiamos a música desde o início. Já estávamos pegando jeito com a coreografia.
- E temos mais uma semana pra fazer o último refrão - diz Tereza. 
- É - digo - Vamos conseguir à tempo!

       Ficamos um longo tempo ensaiando e lanchamos. Fomos para a aula de esportes. Depois de um dia inteiro sem aparecer, consegui visualizar a diretora Alexandra no ginásio. Ela nos deu um aviso breve de que as alunas que gostariam de fazer treino líderes de torcida teriam de se inscrever e começar algumas aulas de ginastica artística, apara ajudar nos movimentos. Não é uma matéria obrigatória, além disso, eu e as garotas já tínhamos focado nos nossos projetos, então resolvemos não participar, mas observamos a Midge, a Raquelle e a Lucy se aproximarem da diretora para assinar os papéis. 
       Após a aula, fomos para o nosso quarto pegar as coisas para ir para casa. Não havia muitas alunas na escola e já estava escurecendo. Assim que peguei tudo, caminhei até a porta e puxei a maçaneta, mas havia algo errado, ela estava trancada.
- Gente... - digo.
- O que? - pergunta Tereza.
- A porta. Está trancada!
- Como assim? - pergunta Nikki.
       Ela caminhou até a porta e também tentou abrir, sem sucesso.
- Mas que droga! - diz ela.
       Summer se aproximou da porta e falou alto:
- Tem alguém aí?
- A maioria das alunas já deve ter ido pra casa - digo.
- Se não vai adiantar pedir ajuda, o que vamos fazer? - pergunta Tereza.
       Logo após ela acabar a frase, ouvi barulhos de passos no corredor, então ergui a palma da mão direita para que as garotas ficassem em silêncio. Prestei atenção e ouvi os passos ficarem distantes. Tive de desviar o olhar da porta para o lustre quando percebi a luz piscar. Ela falhou por alguns instantes e depois apagou completamente. Mal conseguíamos enxergar umas às outras.
- Esperem, vou pegar o meu celular - disse Summer.
- Devo ter uma chave extra na minha bolsa - digo.
       Coloquei a mochila para frente do meu corpo e abri um dos bolsos para procurar.
- Vamos... Tem de estar aqui - digo.
- Alguém pegou - diz Nikki.
- Como? - pergunto - Eu estive com a mochila o tempo todo.
       Um estrondo me fez virar a cabeça em direção à janela. Foi aquele breve instante em que meu corpo agiu conforme os instintos. Eu pulei com o susto, ao mesmo tempo que eu sentia um terrível frio na barriga. Antes que eu pudesse me localizar em meio ao barulho que parecia não acabar mais, permaneci olhando para a sacada, escutando milhares de lascas de vidro se partirem no chão. Nas janelas que ainda estavam inteiras, uma mensagem: Surpresa! A tinta vermelha estava escorrendo, piorando o cenário num todo, deixando ainda mais assustador. 
- A Privet vai matar a gente! - diz Tereza.
       Corri até a sacada e olhei em volta, a altura era maior do que eu lembrava. 
- Como ela conseguiu fugir? - pergunto.
- É mesmo - diz Summer - Eu não vi sequer um vulto nas janelas.
- Disso eu não sei - diz Tereza - Mas ela conseguiu sair daqui. E nós? O que vamos dizer à Privet amanhã?
- Vamos pensar em algo - digo.
- Não se preocupem - diz Nikki - Eu tenho uma corda.
       Ela colocou a mochila no chão e abriu o zíper.
- Espera aí - diz Tereza - Nós não vamos descer da sacada por essa corda!
- E o que? Prefere passar a noite aqui com a janela aberta? - pergunta Nikki.
       Tereza engoliu em seco.
- Nós temos sorte de eu ter esquecido de devolver a corda para o Will - continua Nikki - Era pra mim ter dado à ele de manhã, mas esqueci na mochila. Nem sei como sairíamos daqui.
       Nikki caminhou até a beira da sacada e começou a amarrar a corda no corrimão.
- Ah, ok - diz Tereza - Mas certifique-se que a corda esteja bem presa!
- Pode deixar - diz Nikki.
       A sua mão contornava o corrimão com a corda e em seguida fazia um nó, assim repetiu umas três vezes. Depois, pegou a parte da corda que sobrava e a puxou.
- Parece estar bem firme - diz Nikki - Quer ser a primeira, Tereza?
- Engraçadinha - respondeu ela - Vai você primeiro.
- Tudo bem - respondeu Nikki.
       Ela escalou o corrimão com cuidado, dando a volta para o outro lado do mesmo, segurando firme a corda.
- Para não deixar somente as mãos segurando o peso, apertem as coxas na corda ou enrolem a canela nela - diz Nikki.
- Tome cuidado - digo.
       A garota assentiu com a cabeça e começou a descer. Eu, Tereza e Summer nos inclinamos no corrimão para observá-la. Dava pra notar o cuidado no seu olhar, a forma como mantinha as mãos bem firmes e a precisão de mover as pernas, enrolando e desenrolando-a na corda quando necessário. Foi rápida e chegou lá embaixo antes de termos de nos preocupar com qualquer coisa. Summer foi em seguida, depois Tereza e eu fui a última. Nenhuma de nós encontrou dificuldade, exceto pelo cansaço nos braços, estava tudo bem. Nikki pegou a corda e a jogou pra cima, ela caiu na parte de dentro da sacada.
- Vamos - disse ela. 

 

       No caminho para casa, fiquei ainda mais preocupada com os acontecimentos. Lauren estava nos ameaçando bem mais frequentemente, ao mesmo tempo que parecia estar sendo cada vez mais fácil para ela. Era inexplicável como ela conseguia fugir sempre, eu precisava saber mais sobre isso.
       Me despedi rapidamente das garotas e cheguei em casa com passos apressados. Assim que entrei, mantive o ritmo enquanto visualizava Ken de pé, olhando para o quadro. Eu não custei a reparar nos esboços, mas imediatamente larguei a mochila e o abracei. 
- Ei - diz ele - O que aconteceu?
       Levanto a minha cabeça do seu ombro e o encaro.
- Ken, por favor - digo - Você tem que me contar o que está acontecendo.
       Ele pareceu pensar por alguns instantes, mas sem tirar os olhos de mim, e assentiu com a cabeça.
- Tudo bem - diz ele.

 
 

11. { Capítulo Onze }
       Ken caminhou até o quarto e voltou com uma caixinha.
- Venha cá - diz ele.
       Comecei a segui-lo rumo à porta dos fundos. Paramos diante da piscina, sentindo a leve brisa do mar sobre a pele.
- Quando a Lauren disse que o destino nos colocaria em guerra, eu já imaginava que um dia teria de te contar - diz ele - Mas eu realmente queria não precisar, pelo menos não até ter certeza.
- Tudo bem - digo - Pode contar.
       Ele ergueu a cabeça olhando para o céu.
- Hum... Como estamos no verão pensei que poderíamos ver - diz Ken.
- Ver o que? - pergunto.
- Uma constelação, de arqueiro. Eu sei que isso possui uma conexão com o que a Lauren disse. Você deve prestar atenção e entender o que há por trás dela, isso vai selar o seu destino. Só que eu não estou conseguindo encontrá-lo. 
       Começo a olhar para cima também, tentando ligar os pontinhos. Eu observava as estrelas cintilarem, mas não conseguia unir nada.
- Não precisa esperar para entender tudo isso - continua ele - Pergunte à Privet.
       Desvivei os olhos do céu para ele.
- Privet? A diretora Alexandra Privet? - pergunto.
- É, ela sabe de algumas coisas.
- O que?
- Barbie, eu sei que é confuso, mas se quiser proteger à você e às suas amigas, converse com a Privet amanhã. Confie em mim.
- Ta - digo - Vou falar com ela.

 

       Resolvi contar tudo às garotas na tarde seguinte, enquanto caminhávamos rumo à academia. Eu não podia nem imaginar a reação delas.
- Já pensaram no que vamos contar à Privet? - perguntou Tereza.
- Não - respondeu Summer.
- Ham... meninas - digo.
- O que foi? - pergunta Tereza.
- Eu descobri umas coisas ontem, sobre o que a Lauren está fazendo - continuo - O Ken sabe de algumas coisas.
- Espera, espera - interrompe Tereza - Ela sabia o que estava acontecendo e não te contou nada?
- É mais complicado do que você pensa - digo - Ele disse que preciso encontrar um significado por trás da constelação do arqueiro, porque vai nos ajudar com a Lauren. Tudo aquilo que ela disse sobre destino, a guerra... É tudo verdade!
       À medida que eu falava, nossos passos ficavam mais lentos e as garotas me fitavam sem dizer sequer uma palavra.
- Ele me pediu pra falar com a Privet. Ela vai esclarecer mais alguma coisa - digo.
- O que a diretora Alexandra Privet tem a ver com isso? - pergunta Summer.
- Eu não sei - respondo - Mas é o que vamos descobrir. 
- Tem certeza que devemos? - pergunta Nikki - E se ela não acreditar? Vamos arranjar problemas.
- Eu confio no Ken - digo - Estou certa de que ele está falando a verdade. Quando chegarmos, vou falar com ela.
       
       Assim que passamos pelo portão da academia, acelero os passos. Eu mal esperava para descobrir a verdade sobre isso, se é que Privet nos contaria tudo. Eu esperava que pelo menos eu conseguisse falar com ela antes da aula começar, caso contrário, o assunto me deixaria nervosa a tarde toda. Olhei para todos os lados logo que entrei na academia, mas não demorei muito para visualizá-la. Estava mexendo em alguns papéis atrás do balcão da recepção. A sua assistente, Celeste, também estava lá. Me aproximei devagar e a chamei:
- Diretora Privet? 
       Ela ergueu a cabeça e sorriu.
- O que foi querida? - perguntou ela.
- Podemos conversar um instante? 
- Precisa ser agora?
- Sim, é muito importante - digo.
- Muito bem - disse ela - Por favor Celeste, cuide dos arquivos pra mim.
       A garota loira concordou e saiu da recepção carregando os papéis. Privet voltou a olhar para mim e logo percebeu a presença das garotas.
- Apenas uma de vocês, as outras terão de ir para a aula. Venha para a minha sala, eu estarei lá daqui dez minutos - disse a diretora depois de visualizar o relógio de pulso e sair apressadamente.
       Voltei a olhar para as garotas e disse:
- Eu vou falar com ela. Vocês podem ir até a aula. Contarei tudo que souber depois.

 

       O escritório da diretora Privet era tão bonito quanto o resto da academia. Os moveis retro em cores claras estavam presentes lá. Eles haviam sido fabricados recentemente, mas seguiam a moda vintage. Observo as cores do ambiente num todo, era aconchegante. A madeira da mesa bege, a poltrona lilás pastel, as rosas brancas em um vidro ao lado do computador e os detalhes azulados na porcelana fina do conjunto do chá que Celeste havia me servido enquanto eu aguardava... Fico observando esses detalhes ao máximo durante aqueles minutos que pareciam não acabar mais.

       Privet chegou instantes depois, fiquei imensamente feliz em vê-la. Após contornar a mesa com seus passos apressados, ela sentou-se sorrindo na sua poltrona.
- Então querida, o que queria me dizer? - perguntou ela.
       Um toque de ansiedade fez gelar o meu estômago, pois eu não sabia qual seria a sua reação. Procurei de forma confusa na minha mente as melhores palavras para iniciar o assunto. 
- Ham... - começo - Bem, já faz um tempo que eu e as minhas amigas estamos sendo ameaçadas por uma de nossas colegas.
       Privet arqueou uma das sobrancelhas e perguntou:
- Que tipo de ameaças?
- Ela tem nos perseguido e... - me aproximei um pouco dela, baixando o tom de voz para quase um cochicho - ... tentando nos matar. Literalmente. 
       ''Pronto. Ela vai achar que eu sou louca'' penso. Mas ao invés de receber uma resposta breve da diretora, ela moveu devagar a cabeça para o lado, continuando a me encarar. 
- Eu sei que talvez devesse ter lhe contado antes - digo - Isso vem acontecendo desde a viagem para Paris, mas eu e as meninas realmente não queríamos metê-la nisso. 
- A qual das alunas você se refere? - pergunta ela.
- A Lauren. E as suas duas amigas.
       Privet parou de massagear a nuca e pousou delicadamente a mão na mesa. Se rosto ainda me encarava. Após um suspiro, ela levantou-se da poltrona e ficou de costas para mim.
- Bem - começou ela - Então eu devo dizer que você não precisa se preocupar em não me meter nisso, porque de qualquer forma, eu já estou metida nisto. 
       A sua resposta me deixou confusa, mas de certa forma, aliviada. Eu não sabia se a sua resposta tinha sido apenas pelo fato do caso ter acontecido na sua escola, ou se havia algo mais por trás disso.
- Como? - pergunto me levantando da cadeira também - O que você quer dizer com isso?
       A diretora se aproximou de mim dizendo:
- Há tanta coisa que preciso contar à vocês que eu não sei nem por onde começar.
- Por favor Privet, por favor! Me diga o que está acontecendo! - digo.
- Não se preocupe, querida. No final da aula, leve as garotas até aqui e eu lhes contarei. Você não pode perder aula Barbie, as apresentações estão chegando, apresse-se.
       Um tanto desanimada, concordei, mas me senti bem por termos essa conversa. Ken estava certo, a diretora Privet realmente sabia de algo.

 

- Então, o que foi que ela disse? - perguntou Tereza de forma desesperada assim que cheguei à sala de balé.
- Ela não pode me contar - digo.
- O que? - disse Tereza indignada. 
- Calma - digo baixinho - No final da aula devemos conversar com ela. Ela disse que não podemos perder o ensaio de balé.
- Plié - gritou a professora Marie, interrompendo a nossa conversa. Ela caminhou até o outro lado da sala, pronunciando outras palavras em francês, pelo qual não podemos entender. 
- Vamos lá - diz Nikki.
       Tirei rapidamente a roupa, ficando com a malha e a meia calça que já tinha vestido antes de sair de casa. Sentei ali mesmo, retirando a bota ugg e calçando as sapatilhas de meia ponta. Corri até a barra, me posicionando depois da Summer. 
- Demi plié e grand plié - disse Marie após bater duas palmas.
       A música começou e eu me concentrei nos passos. Relaxei, inspirando fundo e fechando os olhos. Levei o corpo para baixo, dobrando os dois joelhos, movimentando o braço para o lado e depois voltando à posição inicial. Abro os olhos para acompanhar o movimento do braço, mas desvio o olhar para a porta da sala, que acabou de ser fechada com força. Lauren havia entrado. Eu sequer havia tentado procurar por ela na sala antes.
- Está atrasada - disse a professora Marie.
       Lauren fez uma cara de 'estou nem aí pra você' e caminhou até a sala do vestiário. Marie a observou até então, mexeu a cabeça negativamente e caminhou para trás da fileira de alunas que faziam o exercício.

       Nos aquecemos por pelos menos uma hora, depois a professora nos deu a tarefa de ensaiar até o intervalo. Para a ultima parte da música que restava criar, resolvemos começar com saltos que se encaixavam conforme a música era cantada, seguido de giros e alguns passos mais delicados, terminando a coreografia com nós quatro em uma fileira.

 

       Durante o intervalo, me servi de panquecas e suco de laranja. Acompanhei as garotas e sentamos fora do restaurante, como de costume. 
- Não paro de pensar nisso - diz Tereza batendo levemente o garfo no prato.
- Eu também - diz Summer.
- Eu sei que é difícil - digo - Mas temos de ignorar isso até o final da aula.
- Mas você conversou com ela por um tempo. O que ela disse? - pergunta Nikki.
       Olhei em volta para ter certeza que ninguém estivesse ouvindo.
- Privet disse que já está metida nisto - digo - Mas o que acho estranho, é o fato de todos dizerem que tem de guardar segredo.
- É mesmo - concorda Summer. Estou com medo de termos de enfrentar coisas piores.
- Nem me fale - diz Tereza. Eu queria que  tivéssemos um ano tranquilo. Tudo que queríamos era provar que éramos boas em algo. Eu focaria nos meus desenhos, a Barbie no balé, a Nikki nos esportes e a Summer na culinária. Queríamos seguir nossos sonhos, apenas isso.
       Ela apoiou a cabeça nas mãos, olhando para a mesa em profunda decepção. Aperto os lábios ao vê-las tão desanimadas. 
- Privet nos contará tudo - digo - E faremos o possível para nos livrar disso. Não se preocupem, vamos realizar os nossos sonhos.

 

       Os dois últimos períodos de aula se arrastaram terrivelmente devagar. Procurei me acalmar, com sucesso, mas não conseguia me concentrar nas notas que estávamos aprendendo na aula de música. Eu já sabia tocar o que era essencial no violão, pois aprendera com o Ken, então de qualquer forma, eu me sentia melhor pensando que eu perderia parte daquele conteúdo. Mas eu não conseguia sequer parar de olhar para o relógio e a cada minuto que passava, aumentava a ansiedade para saber a verdade sobre a Lauren. 

       Finalmente batemos a porta do escritório da Privet após o sinal. Privet logo a abriu e nos pediu para entrar. Celeste também estava na sala, mas se retirou assim que nos acomodamos nas cadeiras em frente à mesa da diretora. 
- Desculpe por fazê-las esperar até agora. Mas eu gostaria de dizer, podem contar comigo sempre que precisarem. E não é só porque eu sei quem a Lauren realmente é, mas porque vocês são alunas da Academia Californiana. As minhas alunas.
       Me senti imensamente bem por estarmos sendo apoiadas dessa forma. Posso dizer que aliviou grande parte do medo que estava sentindo.
- É muito bom ouvir isso da senhora - diz Tereza.
       Privet assentiu com a cabeça e perguntou:
- Barbie, por acaso você já soube de alguma coisa?
- Ham... sim - digo - Ken me contou algumas coisas. Foi ele que me pediu para falar com você.
- Então você já sabe que precisa encontrar um significado na constelação do arqueiro, certo? - pergunta ela.
- Sim - digo - Mas não consigo entender. Por que eu preciso dessa resposta?
       A diretora inspirou e eu entendera que ela iria começar uma longa história.
- A cada vinte anos, uma entidade do mal muito poderosa tenta dominar este mundo, para digamos assim, trazer o inferno na terra. Isso acontece à muito, muito tempo! Há séculos, pessoas foram escolhidas para lutar contra essas forças do mal e trazer a paz. O que Lauren está fazendo é só o começo, porque agora ela é a líder dessa entidade e estava tentando eliminar vocês antes mesmo que soubessem.
       Olhei para ela sem acreditar no que tinha ouvido. Como isso era possível?
- Então, você quer dizer que nós somos as escolhidas? - pergunta Nikki.
- Exatamente - responde Privet.
- Mas por que nós? - pergunta Tereza.
- Ora, pensem - continuou Privet, apontando para cada uma de nós enquanto falava - Equilíbrio, criatividade, poder, doçura... Vocês são o grupo perfeito! E eu ainda nem citei os seus parceiros.
       Eu e as meninas nos entreolhamos. 
- Eu mesma já fui escolhida para ser uma guardiã - diz Privet.
       Olhei para ela espantada. 
- E... como acontece a derrota da Lauren no nosso caso? - pergunto.
- Essa é a resposta que está no arqueiro - diz Privet.
- Oh, não - digo - Eu não consegui sequer visualizar as estrelas que o formam!
- Calma, querida - continua a diretora - Vai encontrar a resposta, mais cedo ou mais tarde. 
- Então, a Tereza tinha razão, é místico! - diz Summer.
- Sim - diz Privet - Pode se dizer que é místico. Eu logo mostrarei muitas outras coisas místicas para vocês.
- Unicórnios? -  diz Summer.
       Percebi Tereza revirando os olhos e sorrindo.
- Bem - continua Privet - Na verdade essas criaturas são mais importantes do que vocês imaginam.
- O que? - exclama Tereza - Isso não é possível.
- Logo vocês descobrirão tudo isso, mas agora, devem começar a treinar - diz Privet.
- Já tínhamos pensado nisso - diz Nikki - Mas treinar o que?
- Vocês são guardiãs agora. Devem treinar lutas, com armas inclusive - diz Privet.
- Eu estou sonhando, não é? - pergunta Tereza.
- Acho que me empolguei - diz Privet - Sei que deve ser muita informação, mas eu garanto que estou falando a verdade. Não precisam se preocupar com isso. São um grupo forte! Tenho certeza que vencerão qualquer desafio.

 

       Fiquei meio pasma no caminho pra casa, repetindo na minha cabeça cada palavra da diretora.
- Não pode ser, não pode ser - diz Tereza - Isso é tão estranho!
- É mas... se somos guardiãs e treinarmos bem, conseguiremos derrotar a Lauren - diz Nikki.
- Sabemos Nikki - digo - Mas vai levar um tempo pra mim me acostumar com a ideia. Tudo o que ela disse, foi... tão inesperado! Eu não consigo parar de pensar. É loucura!
- Ah, mas você não devia se surpreender tanto - continua Nikki - Estava óbvio que havia algo errado desde o dia em que a Lauren caiu daquele morro de pedras em Paris e não morreu. Na verdade, não aconteceu absolutamente nada com o corpo dela. E como isso é possível?
- Ta bom - digo - Eu sei. Mas se ela não morreu daquele jeito, pense o quanto vai ser difícil derrotá-la!
       Já estávamos nos aproximando das nossas casas.
- Vamos ficar bem - diz Summer.
- Vamos sim - diz Nikki.
       Fui para perto delas e nos demos um abraço coletivo, assim nos despedindo.
       
       Não precisei da chave para abrir a porta, Ken estava em casa. Passei pelo corredor ainda carregando a mochila e começo a observá-lo. Estava sentado em uma almofada no chão, já usando a tinha a óleo colorindo o mar na pintura. Seu cabelo estava bagunçado, o rosto estava sujo de tinta, por uma pequena faixa azul escura no maxilar, assim como os seus dedos. Fico observando o por um tempo até ele notar a minha presença.
- Ei baby - diz ele exibindo um sorriso.
- Oi - sorrio também e me aproximo dele, largando a mochila no sofá.
       Reparo na pintura, todo o esboço de uma praia, mas não uma praia comum, ao longo de seu território havia somente arreia e algumas árvores, mas do outro lado estavam altas colinas, parecidas com montanhas rochosas. O céu estava estampado de nuvens.
- Você ainda não tinha dito o que seria pintado - digo - Agora estou surpresa.
- O que está achando? - pergunta ele enquanto continua a colorir o mar.
- Está ótimo! Como pretende deixar as nuvens?
- Farei um crepúsculo. Isso porque não quero que o céu apresente raios amarelados no horizonte, quero manter a pintura com cores frias. Então digamos que será um anoitecer entre o roxo e o rosa.
       Concordo com a cabeça e em seguida me aproximo para beijá-lo.
- Você está um amorzinho com o cabelo bagunçado e essa mancha de tinta no rosto - digo sorrindo.
       Ele sorriu pelo canto da boca. Depois mudou a expressão rapidamente lembrando de algo.
- Ah, você perguntou alguma coisa à Privet? - pergunta ele.
- Sim - respondo - E agora estou confusa.
- Ela contou coisas demais? - perguntou novamente enquanto continuava a pintar.
- É. Ainda não acredito que somos guardiões. Eu ainda devo estar sonhando.
- Eu posso garantir que é bem real.
- Mas por que demoraram para nos contar?
- Porque só devia ser contado quando tivéssemos certeza. 
       Mordo o lábio e penso um pouco sobre a constelação. Ken parou de pincelar e olhou para mim.
- Você ta bem? - pergunta ele.
- Hum, não sei...
- Amor, não fique assim. Eu te amo.
       Ele empurrou uma madeixa de cabelo para trás da minha orelha. Inspirei e disse:
- Tudo bem. Eu vou para o banho, depois vou dormir.
- Aham - disse ele antes de continuar a pintar.
- Ei, não pegue pesado consigo mesmo, você pintou o dia todo. Vá descansar.
- Já estou indo. Só quero terminar essa parte.
       Assenti com a cabeça e fui para o banho.

 

       Aquela semana passou rápida, sem nenhum outro ataque doido da Lauren, o que de certo modo me tranquilizava, mas todas as noites eu pensava em sair para a varanda e procurar pela constelação. Talvez pudesse deitar na rede e ficar a noite toda caçando os pontinhos, com medo de decepcionar quem estivesse precisando dessa minha resposta para selar o destino. Apesar da minha mente ficar perambulando entre um assunto e outro, não tive nenhum pesadelo. Se houvesse, eu chegaria a pensar que era alguma premonição, claro, depois de todo esse assunto místico invadir a minha imaginação fértil.
       O esperado dia da nossa apresentação de balé finalmente havia chegado. Eu e as garotas estávamos bem preparadas para dançar a coreografia. Já vestidas com o figurino de tutu no fundo do palco, eu observava atentamente aquele lugar sonhado por mim para apresentar O Lago dos Cisnes, se eu fosse escolhida, claro. Esta apresentação era fechada, ou seja, só para as alunas. Algumas delas já tiveram sua vez no palco, por isso voltaram a se sentar na platéia, junto dos professores. Agora era a nossa vez. Entramos uma de cada vez, Tereza, Summer, eu e Nikki e nos colocamos na posição inicial. Ouvi as cordas do baixo na música iniciarem, a batida em seguida e os nossos passos começam. Me dediquei ao máximo, queria impressionar a professora de balé já no início para ter uma chance de ser a rainha dos cisnes. Procurei suavizar e precisar os movimentos, o que já não era mais uma tarefa difícil para mim. Apesar do tempo que fiquei sem fazer balé, recuperei toda a prática assim que comecei na Academia Californiana, e é claro que a música Blue Jeans me dava inspiração suficiente para fazer os passos da melhor maneira possível. Terminamos e fomos muito aplaudidas.

 
 

12. { Capítulo Doze }
       A semana que se seguiu começou apressada na Academia Californiana. Privet anunciou que começaríamos ainda hoje a escolha e os ensaios para os balés de outono. Seriam reproduzidos dois balés de Tchaikovsky, o Quebra Nozes e o Lago dos Cisnes. Os papéis dos rapazes nos balés, seriam cedidos de outra academia de balé de Los Angeles, por isso, as garotas que gostariam de interpretar a Clara, teriam de se inscrever e fazer o teste hoje mesmo.
- O que acha Barbie? - pergunta Summer.
- Ah, não - respondo - Vou tentar o Lago dos Cisnes.
- Hum... - continua ela - Mas acho que você ficaria bem como a Clara.
- Eu adoro o Quebra Nozes, mas o Lago dos Cisnes é o meu sonho. E por que você não tenta? - digo.
- Não estou à essa altura. Acho melhor focar na minha loja de doces.
- Oh, é claro.
       Observei a enorme fila de alunas próximas da Privet para fazer o teste, assinando os nomes em uma folha. O papel da Clara era muito cobiçado. Pensei em quanto eu teria de me dedicar para o papel da Odette, já que a maioria das alunas competiria comigo. Ficamos esperando na sala do vestiário, até que Privet nos chamasse para os primeiros ensaios deste balé.

 

       Ensaiamos a tarde toda, as turmas foram divididas em grupos diferentes do corpo de baile, eu e as garotas ficamos junto de um grande grupo que interpretaria as fadas do inverno. O balé de Quebra Nozes só possui dois atos, mas acredito que usaríamos grande parte de verão para ensaiar, ele seria apresentado no início do outono. Depois começariam os ensaios para o Lago dos Cisnes.
      
       Passaram-se dias monótonos desde aquela tarde, eram ensaios e mais ensaios de balé. Pelo menos até que a Princesa Caramelo fosse escolhida. As listas foram divulgadas na sala de balé. Uma garota de pele clara e cabelos escuros chamada Lexie fora escolhida para interpretar a Clara. Outras bailarinas também foram selecionadas para danças individuais do segundo ato, Midge era uma delas. Fui de encontro à ela e a abracei, empolgada pela sua conquista.
- Oh, Midge - digo - Isso é maravilhoso! 
- Obrigada - responde ela.
- É, a Midge está com tudo na dança - diz Lucy, que junto de Raquelle, também se aproximaram para parabenizá-la. 
- Eu queria o papel principal - continua Midge - Mas nunca daria certo. Estamos muito empenhadas com a dança de torcida. 
       A diretora Privet e a professora Marie entraram na sala, fazendo a euforia das alunas diminuir, porque além delas, entraram na sala os garotos cedidos da outra academia da cidade, que fariam par com algumas das dançarinas e interpretariam personagens importantes da festa no primeiro ato. Grande parte das alunas ficaram empolgadas ao receber aqueles rapazes robustos na sala de aula.
       Lexie e o rapaz que interpretaria o Quebra Nozes se cumprimentaram brevemente e começaram com o alongamento. Eu e as meninas estávamos prestes a acompanhá-los com o plié na barra, mas Privet veio até nós dizendo:
- Meninas, o pas de deux vai ser ensaiado a tarde toda. Posso deixar a chave da biblioteca da academia, se quiserem ler os livros de lá e descobrir mais sobre os guardiões. 
       Olhamos umas para as outras e concordamos. 

 

       A biblioteca ficava ao lado do escritório da diretora Privet. Estava tudo escuro, então puxei as cortinas de uma das janelas e percebi que o lugar era tão aconchegante quanto o seu escritório. As paredes tinham a mesma cor pastel e os mesmos móveis retrô, junto de pequenas mesinhas de vidro para as leituras. Caminhei por entre as prateleiras e observei atentamente os grupos de livros, aventura, romance, poesias... Quando me deparei com o título: místico. Levantei-me na ponta dos pés e apoiei delicadamente as mãos na prateleira, a fim de ler os títulos. Alguns livros eram tão antigos que não era possível visualizar os nomes. Puxei-os para frente e visualizei a capa de um deles, duas asas enormes de anjo estavam estampadas, junto do título: Guardiões. Percebi Nikki se aproximando, então mostrei a capa à ela.
- Veja só!
- Nossa - exclamou ela - Deve ser uma metáfora. Nós não temos asas.
- ( risos ) É.
       Continuei a olhar os outros títulos: estrelas, criaturas mágicas... poções!
- Wow - digo ao visualizar este último título - Nós temos de levar todos esses livros para a suíte.
       Tento carregá-los balançando os braços freneticamente para não desequilibrá-los, mas eram muitos livros. Fiquei feito louca tentando segurar todos eles. Nikki riu e me ajudou carregando alguns deles.
- O que encontraram? - pergunta Summer ao aparecer no corredor de prateleiras. 
- Ajude aqui - digo - Tem muitos livros que quero ler, vamos levá-los para a suíte. Chame a Tereza. 
- Não posso - gritou Tereza do outro lado da prateleira. 
- O que? - exclamo. 
       Afastei alguns livros para poder visualizá-la do outro lado. Estava segurando dois livros, um deles aberto bem diante dos seus olhos. Não consegui visualizar o título, mas haviam modelos de vestidos desenhados na capa, então supus que fosse algum livro de moda para ajudar jovens estilistas. Tereza sorriu e deu de ombros assim que me encarou e se dirigiu para fora da biblioteca. 
- Ai - bufei.
       Olhei para o lado e vi Summer e Nikki carregando alguns livros.
- Isso é o máximo que eu aguento, Barbie - diz Summer.
- Tudo bem, não vai dar pra levar tudo o mesmo - digo.
- Nós vamos indo - diz Nikki - Não esqueça de trancar a porta. 
       Concordo com a cabeça enquanto visualizo as duas saindo da sala. Volto a olhar para a prateleira, juntando no meu colo alguns títulos que achava interessantes. Acabei com sete livros, uma quantidade não muito grande, mas todos eles eram bem pesados e o caminho até a suíte era meio longo. Saí da biblioteca. Por sorte, havia uma mesinha no corredor, deixei os livros ali e tranquei a porta. Após pegá-los novamente, saí cambaleando com o peso dos mesmos. Tomei cuidado para não esbarrar nas pessoas, só faltava dobrar mais um corredor. O peso já cansava os meus dedos, que tremiam um pouco, tentei levar os livros para mais perto do meu corpo a fim de abraçá-los, mas na tentativa, o livro que estava embaixo escorregou, abrindo algumas páginas. Pensei que algo tivesse caído de dentro dele, então olhei para o chão, bem quando estava prestes a dobrar o corredor. Quando voltei a olhar pra frente, o meu peito já estava sentindo um impacto. Caí para trás, assim como todos os livros, que folhearam e bateram no chão, fazendo um baita barulho. Outros caíram em cima de mim. Fiquei ali feito uma anta sem reação.
- Oh, desculpe moça - disse um garoto. 
       Olhei para ele tentando visualizar suas feições. Estava de óculos escuros, mas os ergueu no topo de seus cabelos loiros assim que começou a carregar os livros caídos no chão. 
- Está tudo bem? - pergunta ele enquanto me ajuda a levantar.
       Assim que nos encaramos, tanto eu quanto ele ficamos paralisados. ''Sim, é aquele rosto'', eu dizia para mim mesma. O cara da van. É o cara da van que eu e as garotas invadimos! Percebi que ele lembrara de mim, pois me encarava o tempo todo, mas não parecia estar com raiva. Minhas bochechas coraram. 
- Tudo bem - respondo.
        Termino de ajuntar os livros e saio rapidamente dali, incapaz de olhar para trás. Chegando ao nosso quarto, empurro a porta com as costas e fico parada ali. Morrendo de vergonha.
- Ei, por que demorou? - pergunta Tereza se aproximando para pegar os livros da minha mão - Você está vermelha.
- Eu sei - tapei o rosto com as duas mãos.
- O que houve? - pergunta Summer.
- Aquele garoto - digo - O garoto da van que invadimos. Eu esbarrei com ele no corredor.
- Eita - diz Tereza antes de começar a rir.
- Sério? E o que ele estaria fazendo aqui? - pergunta Summer.
- Não faço ideia - digo - Só sei que estou morrendo de vergonha!
- Claro, carregando todos esses livros - diz Tereza fazendo uma carreta - Impossível não ser desastrada. 
- Barbie, cadê a chave da biblioteca? - pergunta Nikki.
- Oh não - digo passando a mão pelos meus bolsos - Ela deve ter caído...
       Ouço alguém bater na porta.
- Deve ser ele! - diz Tereza.
- Ai meu Deus - exclamo.
- Desculpe Barbie, mas é pra você que ele quer dar a chave - diz Nikki.
- Ah, ta bom.
       Como a Tereza imaginava, era ele sim. Devo ter corado de novo ao abrir a porta. 
- Você deixou cair isto - disse ele. 
       Forcei um sorriso para esconder a vergonha e peguei a chave das mãos dele.
- Obrigada.
- Sabe, não tivemos tempo de nos apresentar direito. Meu nome é Jack.
- Hum, Barbie - apresento-me. 
- Sei que você deve estar constrangida - disse ele meio sem jeito - Mas estou aqui porque vou fazer algumas reformas no jardim do castelo, ficarei o semestre todo e não gostaria de tornar isso constrangedor para você. Não fique mal pelo que você e aquelas garotas fizeram na minha van. 
       Ele lembrava mesmo!
- Oh, sim - digo - Aquelas garotas estão aqui também.
- Barbie! - xingou Tereza.
       Logo, todas elas apareceram na porta. Jack riu ao ver os rostos furiosos das meninas por eu tê-las entregado.
- Não tem problemas - continuou ele - De verdade.
- É, admito que rimos muito - diz Summer.
       Jack riu novamente e disse:
- Bom, eu tenho de começar as reformas. Nos vemos por aí.
- Ta - respondo.
        Logo após ele sumir no corredor, comentei com as meninas:
- Ainda estou envergonhada. 

 

       Quando voltamos à sala de balé, a dupla ainda estava ensaiando o pas de deux. Fiquei impressionada com o talento da Lexie, principalmente porque eu ainda não tinha a visualizado dançar. Os seus movimentos eram precisos e delicados, assim como eu costumava fazer. Era necessário, além da coreografia, que você se entregasse a personagem e a Lexie fazia isso muito bem. 
       Observei Tereza se aproximar da Privet, provavelmente para entregar a chave da biblioteca e contar que levamos os livros até a nossa suíte. Privet concordou com a cabeça e levantou o polegar direito, demonstrando aprovação.

 

       Após um banho quente, peguei um dos livros que trouxera para casa e me sentei no sofá para ler. Ken estava sentado ali perto, colorindo a pintura, pincelando levemente tons brancos nas ondas do mar. Desvio o olhar para a capa do livro, observando atentamente aquelas asas e lembrei-me de quando Nikki disse que elas eram uma metáfora. Não saberia dizer se ela estava certa, mas de certo modo, eu preferia pensar que essas asas tinham um significado bem maior para nós. Deslizo os dedos sobre a capa de couro e finalmente o abro. As páginas amareladas eram contrastadas por letras pretas escritas à mão, uma letra bem desenhada e delicada. Os primeiros textos tinham como título: Anjos Guardiões e Anjos Caídos. ''O que? Guardiões são como anjos?'', perguntei à mim mesma. ''Isso explica as asas na capa''.
       A leitura parecia me levar para outro lugar. Fiquei tão entretida que mal percebi o tempo passar. A definição de ambos os anjos estava bem clara, e Lauren era como um anjo caído. Mas essa definição era precipitada demais pra mim. Não conseguia simplesmente acreditar que ela era um anjo negro. E se nós fossemos mesmo anjos, onde estavam as asas? Olhei de relance para as minhas costas e comecei a rir. Ken parou a pintura e olhou para mim, perguntando:
- O que foi? 
- Isso é uma bobagem.
       Ele levantou levemente as sobrancelhas e relaxou a mão do pincel sobre a paleta.
- O que é uma bobagem?
- Isso tudo. Eu... Não consigo acreditar que somos guardiões. Afinal, o que essas asas representam?
- Tudo o que você imagina - ele virou-se, voltando a se concentrar na pintura - Olhe bem para elas. Beleza, proteção, força...
- Então elas são uma metáfora?
       Ken apertou os lábios ainda olhando para a pintura e mostrou seu sorriso travesso. 
- Talvez. 
       Alguma coisa no olhar dele provava que ele sabia o que elas significavam, e a sua resposta me deixou inconformada. Não conseguia entender porque tudo era tão sigiloso. Por acaso queriam que eu descobrisse sozinha? Volto a olhar para a ilustração na capa, aquelas asas, desejando profundamente tê-las em minhas costas. Eu me sentiria completamente livre e capaz de enfrentar a Lauren. 
- Mas eu não entendo - digo.
- Quem lhe deu os livros? Privet?
- É.
- Ah, aquela coleção é incrível. Continue lendo e descobrirá coisas que nem imagina. 
       Ken deslizou o pincel sobre o resto de tinta azul da paleta, terminando uma parte do quadro. Ele relaxou os braços sobre as pernas cruzadas e suspirou lentamente. 
- Seu rosto não está manchado dessa vez - digo sorrindo.
- Por incrível que pareça.
       Ele sorriu também e levantou-se. Seu rosto cansado veio à tona, enquanto ele se aproximava para guardar seu material. Fechei o livro e deixei-o de lado no sofá.
- Vem amor, vamos dormir.

 
 

13. { Capítulo Treze }
- Formem uma fileira! -  gritou a professora Marie.
       Faziam duas horas desde que as alunas deixaram a sala de balé alongadas e prontas para comparecer ao palco. As longas cortinas escuras estavam abertas, eu podia ver a Privet e as alunas do primeiro ato sentadas na platéia. O pianista começou calma e lindamente a música. Observei a fila de alunas seguir para dentro o palco, então a coreografia me veio em mente. A dança revezava-se entre as alunas, de duplas em duplas, as bailarinas corriam pelo palco e realizavam alguns passos. 



 Continua... fanfic Queen of Flowers.

12 comentários:

  1. Muito Perfeita! Continua Sempre? Bjos!

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  2. Adorei a escolha dos atores para as personagens! Perfeito a Tereza e Barbara Palvin, a Summer e a Holland Roden <3 só preferia que a Cara Delevigne fosse a Barbie, mas como Midge já ta ótimo!

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    1. Que bom que gostou da escolha! Eu também já pensei em colocá-la como a Barbie, mas sei lá, eu sempre fui mais a Ashley Benson. Obrigada *3*

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  3. nossa demais amei...e o layout do seu blog e lindo eu amei

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  4. Me surpreendo cada vez mais! Liih, eu sempre quis que tivesse uma fanfic da Barbie, acredite, eu já procurei online e nenhuma é boa, mas a sua história é ótima! Amei o fato de você escolher as mesmas personagens amigas da Barbie, o Ken... está muito bom mesmo. Continue <3

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    1. É ótimo saber que gosta! Obrigada ^^ Eu também já tentei procurar por fanfics da Barbie, mas não achei nenhuma que me agradasse :P

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  5. Imaginando o visual da Tereza no baile... Que maravilhosa! Porque a Tereza é a melhor de todas, euehuehe <3 <3

    ~ Barbie Dreams Forever ~

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    1. auehauhehqwdhq, eu também achei que ela ficaria ótima com um half bun, por isso resolvi misturar esse estilo indie com o glamour dela. A Tereza é provavelmente a mais estilosa de todas.

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    2. Com certeza! Ah, e a propósito, qual a sua personagem preferida?

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    3. Como autora, eu diria que a minha personagem preferida é a Barbie, pois sendo narrado em primeira pessoa, eu me descrevo através dela. É como se ela fosse exatamente o meu reflexo na história. Amo todos os amigos dela, mas a Barbie e o Ken são mais importantes pra mim <3

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