Textinho: Inocência Perdida

 

    Olá! Perdoem-me pela ausência. Eu já devo ter mencionado que estou cursando psicologia, e o final de semestre é sempre uma loucura - o que me apavora é lembrar que tudo vai ficar mais tenso depois. Mas francamente, eu posso dizer que minha vida tomou um rumo inesperado nesse tempo. Muita coisa aconteceu e algumas coisas se tornaram melhores, outras, piores. Pois bem, com a minha volta, eu pretendi trazer outro textinho, já que acho reconfortante procurar palavras e escrever metaforicamente sobre o que sinto.

 

    Corríamos à duas quadras e meia até que enfim paramos. Minhas pernas pesadas tremiam desajeitadas. Levei minhas mãos até os joelhos, apertando-os. Os olhos fechados levaram a cabeça para baixo, inclinando-a em seguida. Os barulhos ainda soavam na minha mente, trazendo-me à memória os momentos antecedentes à fuga. A respiração rápida e curta sufocava. O ar frio daquela noite ardia na minha garganta. Busco acalmar me. Concentro o olhar no sujeito à minha frente. Sim, era ele quem corria comigo. 

    Imediatamente reparei seu físico. Ele estava tão trêmulo quanto eu. Seu rosto sombreado pela luz da lua fez questionar-me sobre o que ele estava sentindo. Sua expressão não parecia tão apavorada, mas sim, uma mistura de adrenalina e proveito. Seus olhos brilhavam como os de uma criança. O sorriso aberto deixava-lhe escapar sua respiração ofegante. Ele esfregou o punho abaixo do nariz, sacudindo-o em seguida. Meu olhar seguiu os traços de suas mãos, os músculos rígidos avermelhados e as veias inchadas. 

    Ele balançava as mãos freneticamente, tentando limpar o que sobrara da sujeira. Mas é impossível apagar as sequelas, ele sabia disso. Aquele esforço todo poderia ser em vão, mas achava que poderia encontrar algo bom da situação para aliviar o peso da consciência. E era o que o tornava completamente insano. Seus olhos encontraram os meus e ele continuou sorrindo, porém semicerrando os olhos, como se tentasse me analisar. ''Ei'', eu ouvi ele dizer.

    A melodia de Swan Song invadia a minha mente. A batida, o violino, o soprano suave. Eu voltava a sentir o corpo flácido quando recordava-me do debruçar sobre o seu corpo.''Está tudo bem agora'', eu o ouvi mencionar mais calmamente. Meu olhar assustado parecia estar transmitindo algo à ele. Me confortei com o fato de meus músculos finalmente estarem relaxados para sentir o calor da corrida aquecer meu corpo. O conforto vinha também da situação em si, de certa forma. Só não sei ao certo se era por estar com ele.

a paixão é morfina psicológica